Pela 1ª vez na história, arquiteto negro, famoso por projetar escolas infantis, ganha “Prêmio Nobel” da Arquitetura

Nem em seus sonhos mais loucos, Diébédo Francis Kéré imaginava que iria voar tão alto e chegar tão longe com seu maior hobby e paixão: a arquitetura.

“Você consegue imaginar? Nasci em Burkina Faso, um país da África Ocidental, nesta pequena aldeia onde não havia escola. E meu pai queria que eu aprendesse a ler e escrever de maneira muito simples, porque assim poderia traduzir ou ler suas cartas”, disse Kéré.

Recentemente, ele foi homenageado pela Universidade de Oxford após ganhar o Prêmio Pritzker, também chamado de “Prêmio Nobel de Arquitetura”.

Foto: Prêmio Pritzker de Arquitetura

Sempre sorridente e leve, o arquiteto está em constante evolução: abriu seu próprio ateliê e hoje trabalha na construção de um edifício do governo de Burkina Faso inspirado em uma árvore nativa. Segundo ele, o prédio será um símbolo da África Ocidental, refletindo a tradição e a jovem democracia do seu país.

“Esse edifício será um lugar de comunhão para que as pessoas possam se reunir, tomar decisões e comemorar”, disse Kéré, com os olhos brilhando.

O arquiteto é o primeiro homem negro a vencer o Prêmio Pritzker em 43 anos desde sua fundação, em 1979. Antes do prêmio, ele recebeu inúmeros elogios em sua área, além de reconhecimentos, como o Prêmio Aga Khan e a medalha Thomas Jefferson.

Antes de ser convidado para idealizar grandes construções, Kéré se dedicava a assinar as plantas de escolas primárias e clínicas de saúde de seu país.

A Escola Benga Riverside que o arquiteto projetou. Foto: Prêmio Pritzker de Arquitetura

“Francis Kéré fornece uma arquitetura pioneira – sustentável para a terra e seus habitantes – em terras de extrema escassez”, disse o presidente do comitê, Tom Pritzker, em um comunicado.

“Ele é igualmente arquiteto e servidor público, aprimorando a vida e as experiências de inúmeros cidadãos em uma região do mundo às vezes esquecida. Através de edifícios que demonstram beleza, modéstia, ousadia e invenção, e pela integridade de sua arquitetura, Kéré defende graciosamente a missão deste Prêmio.”

O Instituto de Tecnologia de Burkina Faso. Foto: Prêmio Pritzker de Arquitetura

Kéré diz que sua prática arquitetônica foi inspirada em sua própria experiência de frequentar a escola com cerca de 100 outras crianças em uma região onde as temperaturas excedem regularmente os 38 graus Celsius. “Era sempre tudo muito quente dentro da escola. E não havia luz, enquanto lá fora, a luz do sol era abundante. Isso cresceu na minha cabeça com o passar dos anos e me motivou a pensar em soluções melhores, que tornassem a vida das pessoas mais fácil”.

Em seus projetos para a Escola Primária Gando e a Escola Secundária Naaba Belem Goumma em Burkina Faso, Kéré utilizou materiais de construção tradicionais, como argila local misturada com concreto, e projetou cômodos com espaços bem ventilados que reduzem a necessidade de ar condicionado. Ele queria que os edifícios evocassem a sensação de um oásis. “Estou criando um pequeno paraíso para muitas, muitas crianças, para serem felizes e aprenderem a ler e escrever“, disse.

O Centro de Saúde e Bem-Estar Social em Laongo, Burkina Faso. Foto: Prêmio Pritzker de Arquitetura

Aos vinte anos, em 1985, Kéré ganhou uma bolsa de estudos para estudar carpintaria em Berlim. Nos anos 2000, conquistou o mestrado em Arquitetura.

Ele ainda era um estudante quando projetou e construiu a inovadora Escola Primária Gando. O reconhecimento que ganhou ajudou Kéré a estabelecer sua própria prática em Berlim, na Alemanha.

A Escola Lycée Schorge, em Palogo, Burkina Faso. Foto: Prêmio Pritzker de Arquitetura

“Ele sabe, por dentro, que a arquitetura não é sobre o objeto, mas o objetivo; não o produto, mas o processo”, disseram os jurados do Prêmio Pritzker.

“Todo o corpo de trabalho de Francis Kéré nos mostra o poder da materialidade enraizada no lugar onde se vive. Seus edifícios, para e com as comunidades, são diretamente dessas comunidades – em sua fabricação, seus materiais, seus programas e seus personagens únicos.”

O Serpentine Pavilion, construído em Kensington Gardens, em Londres, e idealizou por Kéré. Foto: Premio Pritzker de Arquitetura

Fonte: Upsocl

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