No auge da pandemia, Maria do Socorro Elias Gamenha, 45 anos, do povo Baniwa, residente em Manaus, ajudou comunidades indígenas a ter acesso a comida e medicamentos e a recuperar saberes ancestrais. Aqui, ela conta como essa rede de mulheres arregaçou as mangas para garantir a sobrevivência dessas comunidades:
“Viver em comunidade é algo muito natural para os povos indígenas. Mesmo quando moramos na cidade, trazemos conosco esse forte senso de pertencimento. Não à toa chamamos os indígenas de outros povos de parentes.
No estado do Amazonas, a pandemia afetou diretamente os recursos e a sobrevivência dos indígenas. Diante da omissão do governo, que praticamente não chegava às comunidades rurais e ribeirinhas, nos unimos em um grupo de quatro pessoas e arregaçamos as mangas para levar comida e medicamentos até essas regiões, algumas delas localizadas a cinco ou seis horas de barco de Manaus.
Como já fazíamos parte de uma rede de mulheres indígenas no Amazonas, ficou mais fácil conseguir ajuda financeira para reunir recursos e doações. O difícil mesmo foi a parte emocional.
Resgatar os saberes ancestrais
Levávamos os donativos ao mesmo tempo em que enfrentávamos o medo da doença e o luto pela perda dos nossos parentes.
Em algumas comunidades, também organizamos rodas de conversa para resgatar os saberes ancestrais por meio das plantas nativas, criamos hortas e conseguimos mobilizar tanto os mais velhos quanto os mais novos, que se viram interessados em aprender sobre o uso das plantas medicinais para amenizar os sintomas da covid.
À medida que a cidade vai chegando às aldeias, muitos de nós perdemos o interesse pelos conhecimentos tradicionais. Foi estendendo a mão para os nossos parentes que resgatamos também a nossa força, nos unimos e nos aproximamos das nossas origens e raízes. Isso nos fortaleceu enquanto povo e mulheres indígenas.”
Texto: Gabriela Portilho
Foto: Alberto Araújo
Conteúdo publicado originalmente na TODOS #44, em julho de 2022.
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