Além do trabalho fichado em uma transportadora, Carlos Henrique Salles vende doces nas ruas de Santos (SP) para complementar a renda. No início deste mês, a caminho do centro onde passa o restante do dia vendendo, Henrique foi protagonista de uma situação excepcional.
Era uma terça-feira por volta das 18h quando o Arthur, um menino autista de 11 anos, desapareceu da vista dos seus familiares, deixando os pais desesperados em busca do seu paradeiro.
Felizmente, o doceiro encontrou o menino vagando na rua e prestes a entrar em um ônibus. Logo ele percebeu que a situação era incomum e ficou em alerta para oferecer ajuda.
“A gente ia levar o meu filho na casa da minha sogra. Ela mora na mesma rua, a umas seis casas da minha casa”, contou a mãe, Rosângela Lopes, de 52 anos, em entrevista ao portal Costa Norte. “Eu não estava junto [na hora]. Depois minha sogra me falou o que tinha acontecido. O Arthur tocou a campainha. Ela falou: ‘Arthur, vovó vai pegar a chave e já vai abrir o portão”’.
Em questão de segundos, entre o tempo da avó chegar até a porta, o menino desapareceu. “Por uma distração, meu sogro e meu marido, que o deixaram na porta,a acharam que ele já tinha entrado dentro da casa. Porque é muito pertinho. E aí quando chegaram na porta, eles viram que o Arthur não estava e minha sogra percebeu que ele também não tinha ficado no portão. Saiu todo mundo desesperado aqui no Canal 3, na [avenida] Washington Luiz”, completou Rosângela.
Não muito longe dali estava Henrique vendendo seus doces. “Era um horário movimentado, por volta das 18h. Eu percebi um menino entrando no ônibus que ia pra Cubatão. Uma fila grande. Na hora pensei que pensei que fosse um menino furando a fila. Estranhei”, disse o doceiro, que é formado em educação física.
Assim que perceberam o desaparecimento do menino, Rosângela e toda a família saíram em desespero na rua, pedindo ajuda e informações que pudessem facilitar sua procura.
Mas, ainda bem, tudo cooperou para o bem de Arthur! Isso porque seus familiares encontraram o Henrique, que sabia onde a criança estava, afinal.
“Eu estava vendendo meus doces, quando vi um senhor passando, como se estivesse procurando algo. Em seguida, veio uma senhora. Aí, já percebi, liguei uma coisa na outra. Perguntei o que que eles estavam procurando. Aí eles falaram que era um menino, e descreveram ele”.
Após informar que o menino havia entrado no ônibus, eles deduziram a rota do veículo e conseguiram rastreá-lo em sua última parada, na Serra do Mar.
“Imagina, o Arthur subindo dentro de um ônibus. O motorista deve ter liberado achando que ele estava acompanhado… O ponto final desse ônibus é lá na serra do mar. A minha sogra quase teve um troço do coração. Meu marido começou a ficar nervoso. De pensar que poderia ter acontecido alguma coisa com o Arthur”, desabafou Rosângela, segurando as lágrimas.
Rosângela e seu filho Arthur. Foto: Acervo Pessoal
Sensibilizado com a apreensão da família, Henrique também se dispôs a ajudar.
“Ele largou os doces, largou celular, largou tudo, e saiu voando atrás do ônibus”, relembra Rosângela. “Você não tem noção. Meu marido também foi atrás, com muita dificuldade, porque ele tem um problema no joelho”.
“Saí correndo. Eu não pensava em nada. Só pensava em alcançar o menino no ônibus”, disse Henrique. “Só falei ‘Deus, me dá forças pra poder alcançar esse menino’. Quando eu quase tinha alcançado o ônibus, comecei a gritar”.
Próximo da última parada, o motorista percebeu a correria, parou o veículo e permitiu a entrada do pai de Arthur. “Meu filho estava lá no fundo, sentadinho, como se nada tivesse acontecido, segurando os livros de desenho dele. Meu marido perguntou: ‘Arthur, por que você fugiu, filho? Ai ele assim. ‘Passear’. Ele não tem o senso de perigo”, contou Rosângela.
Arthur não conseguia entender porque sua família inteira e um desconhecido estavam ali, chorando… Mas não importa! O que importa é que ele estava bem e a salvo.
Henrique (ao fundo), com sua esposa Karina e seus três filhos. Foto: Acervo Pessoal / Carlos Henrique Salles
“Na hora pensei nos meus filhos. Tenho três. Poderia ser um dos meus filhos. Veio lágrimas”, disse Henrique.
Ao final, Rosângela fez questão de agradecer pela ajuda do doceiro.
“Passa um monte de coisa na cabeça, sabe? Tipo, se ele tivesse descido no ponto com alguém. Se alguém tivesse pego ele. O Henrique foi um anjo. Não posso parar pra pensar que até me emociono”, completou.
Fonte: Portal Costa Norte
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