Startups vendem ‘Lego’ para quem quer criar seu banco digital

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O novo cenário que vem se formando no setor financeiro brasileiro, em que as empresas estabelecidas disputam espaço com fintechs e companhias de outros setores, está impulsionando investimentos em startups que criam a infraestrutura para a entrada de mais empresas nesse mercado.

Essas companhias oferecem o que é conhecido no mercado como “banking as a service”, ou seja, fornecem a tecnologia e a expertise para que outras empresas criem seus serviços digitais.

Elas podem, por exemplo, apoiar um varejista na hora de criar uma carteira digital que será oferecida para que os clientes da loja armazenem dinheiro, peçam empréstimo e paguem boletos de cobrança. Outro uso comum é a criação de sistemas para que aplicativos de transporte façam pagamentos para os motoristas em contas digitais.

Rafael Lavezzo, presidente da Zoop, diz que sua startup dá a outras empresas a possibilidade de criar um banco sem precisar se preocupar com regulações do Banco Central. As companhias como a sua, que vendem a infraestrutura para o setor, ficam responsáveis por manter licenças e seguir regras que visam, por exemplo, garantir a solvência da instituição e prevenir a lavagem de dinheiro.

Além de dar ferramentas de pagamento para outras empresas e permitir que elas mantenham contas digitais para clientes e fornecedores, a Zoop também quer que outras empresas usem sua infraestrutura para concessão de empréstimos. Os recursos viriam dela própria ou de fundos parceiros, diz Laveso.

A Zoop recebeu no final de junho um investimento de R$ 170 milhões da Movile, holding dona do iFood, cliente do banking as a service da startup para oferecer produtos financeiros a consumidores, entregadores e restaurantes.

Já a startup Celcoin captou R$ 55 milhões em julho com a empresa Sinqia, com fundo do banco BTG Pactual e o fundo Vox.

A companhia, diz seu sócio Marcelo França, disponibiliza o equivalente a peças do brinquedo Lego para quem quer oferecer serviços financeiros.

Entre as ferramentas que a Celcoin instala para seus clientes estão a possibilidade de receber pagamentos via Pix ou débito automático.

França diz que, com a pandemia e o impulso à digitalização que ela trouxe, o número de clientes da Celcoin saltou de 60 para 130 em 2020. Agora são 170, diz.

Outra startup do setor, o FitBank conta com o banco americano JP Morgan, de quem recebeu investimento sem valor divulgado em 2020, entre seus parceiros para expandir o “banking as a service”. Em março, levantou R$ 10 milhões com a empresa CSU, também do mercado financeiro. Foi de 60 clientes em 2020 para os 155 atuais.

Otavio Farah, presidente da startup, diz que o banking as a service é usado com frequência por empresas que precisam pagar muitas pessoas. Uma companhia que exporta soja, por exemplo, pode criar um serviço financeiro para dar crédito a produtores rurais de quem costuma comprar mercadorias antecipando valores que eles têm para receber.

Fred Amaral, diretor de tecnologia da Conductor, diz que a empresa conta com mais de cem clientes de banking as a service. Desses, 40 são startups e as demais são companhias estabelecidas que estão criando suas próprias fintechs.

Amaral diz que a criação de fintechs próprias pode servir para empresas que têm contato recorrente com seus clientes ou fornecedores. “Se você tem um negócio em que as pessoas passam com frequência em seu balcão, pode ter finanças embarcadas ali.”

A companhia, que já era investida pela Visa, captou US$ 170 milhões no final de 2020 de investidores como Temasek, de Cingapura, e das gestoras Viking Global Investors e Sunley House Capital (ligada à Advent).

Renato Ribeiro, presidente da fintech Iugu, investida pelo Goldman Sachs, diz que o banking as a service também vem sendo usado por empresas que oferecem softwares de gestão para seus clientes. Isso acontece porque essas companhias já possuem uma relação próxima com o fluxo de pagamentos e recebimentos de seus clientes, diz.

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