IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Ministério da Defesa da Rússia acusou o Reino Unido de ajudar a Ucrânia a fazer o maior ataque contra a base da Frota do Mar Negro, na madrugada deste sábado (29), e de ter organizado as explosões que destruíram 3 dos 4 ramais do sistema de gasodutos Nord Stream.
É a primeira vez que Moscou acusa um país membro da Otan, a aliança militar do Ocidente, de participar de forma ativa de um ataque contra sua infraestrutura. Até aqui, as acusações diziam respeito ao envio maciço de armas dos EUA e da Europa para Kiev, além do compartilhamento de informações de inteligência.
Segundo o Ministério da Defesa em Londres, as acusações são “alegações falsas em uma escala épica”, que visam tirar foco de dificuldades militares dos russos na Ucrânia, invadida em fevereiro.
As explosões no Nord Stream, cujos dois sistemas gêmeos correm mais de 1.200 km sob o mar Báltico, ligando a Rússia à Alemanha no projeto mais simbólico da dependência europeia do gás natural de Moscou, ocorreram há um mês.
Segundo disse na quinta (27) o presidente Vladimir Putin, em encontro com analistas internacionais perto de Moscou, elas foram obra de um governo contra a Rússia. Mas ele não deu nomes. O já reduzido envio de gás russo para a Europa se dá por um ramal na Ucrânia e o sistema turco, e é chave na pressão exercida pelo Kremlin para retaliar as sanções impostas pelo Ocidente à sua economia.
Anteriormente, a Otan havia apontado o dedo para os russos, advertindo Putin que não toleraria ataques à sua infraestrutura energética. É um ponto sensível, já que doutrinas de emprego de armas nucleares em ambos os lados preveem seu uso em caso de ameaças existenciais contra o Estado.
Já o ataque ocorrida às 4h20 (22h20 de sexta em Brasília) deste sábado em Sebastopol é o mais audacioso desde a explosão que atingiu a ponte da Crimeia, símbolo da anexação promovida por Putin em 2014, no começo deste mês.
A Frota do Mar Negro é uma força em baixa, que recuou seus navios mais preciosos para o mar de Azov, que é um braço do corpo d’água maior, mais protegido. Mas sua base é russa desde o império dos Románov, tendo sido estabelecida em 1783.
Mesmo quando a Ucrânia separou-se da União Soviética, em 1991, foi feito um acordo para que os russos pagassem para manter a força lá, na região russófona da Crimeia. Em 2014, as formalidades foram deixadas de lado.
Assim, as explosões que danificaram o caça-minas Ivan Golubets e uma rede de contenção na baía de Iujnaia têm alto poder simbólico para uma desmoralizada frota, que havia perdido em abril sua nau-capitânia, o cruzador pesado Moskva, em um ataque perto da costa ucraniana.
Segundo o porta-voz militar Igor Konachenkov, foram usados nove drones aéreos e sete modelos autônomos submarinos, que funcionam como torpedos guiados por GPS. Eles danificaram a rede, que visa impedir a entrada de submarinos na baía de Sebastopol, que tem várias baías secundárias incrustadas na grande cidade imperial, como a Iujnaia.
Não há relato de feridos. Antes desse ataque, o quartel-general da Frota do Mar Negro havia sido alvo de drones algumas vezes, sem maiores consequências. Mas a guerra, apesar de próxima fisicamente, só foi sentida de forma mais assertiva na península quando uma base aérea foi atacada e quase metade do componente de aviação naval da frota, destruído, em agosto.
A explosão da ponte na Crimeia levou à troca do comandante das operações russas na Ucrânia e à onda de ataques subsequentes à infraestrutura energética do vizinho, que já atingiu de alguma forma 60% da distribuição de eletricidade do país, com o inverno às portas.
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