A redução da inflação na Argentina registrada nos últimos meses foi motivada pela queda da atividade econômica do país, que deve fechar o ano pretérito com recessão de 3% a 4% do Resultado Interno Bruto (PIB). Em abril do ano pretérito, a inflação registrada foi de 289% e, em janeiro de 2025 o índice caiu para 84% (ambos no aglomerado de 12 meses).
A avaliação é do perito Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, que também ministra cursos sobre a economia dos países, incluindo a Argentina. Segundo ele, a recessão foi estimulada pelo “brutal” galanteio de gastos públicos promovido pelo governo do ultraliberal Javier Milei, atualmente envolvido no chamado escândalo do Cripto Gate.
“A grande explicação para a queda da inflação na Argentina está na queda do PIB. Ou seja, a economia mergulhou em recessão e a consequência disso é a queda da inflação porque você tem uma economia que para de funcionar e se contrai. Não temos ainda o oferecido consolidado do PIB, mas ele deve desabar de 3% a 4% no ano pretérito. É o completo oposto do Brasil, que deve ter desenvolvido 3,5%”, explicou o perito.Paulo Gala acrescenta que o ajuste fiscal promovido pelo governo, com a suspensão de obras, demissões de funcionários, galanteio no repasse para províncias e redução de despesas com instrução, entre outras, fez da Argentina o país da América Latina com maior superávit fiscal da região.
“O que Milei está fazendo na Argentina é o que a gente labareda de um choque clássico de contração de gasto público. Ele segurou os gastos ao sumo, fez um ajuste fiscal gigante, muito duro. A consequência é uma desaceleração econômica muito grande”, completou.Para o perito, apesar da melhoria dos indicadores econômicos a partir do final do ano pretérito, a situação ainda é gravíssima. “Ainda é um caso de UTI. O ano pretérito foi um ano muito difícil. Portanto, dificilmente 2025 vai ser pior do que o ano pretérito. Agora, a incerteza é quão robusta e sustentável vai ser essa recuperação. A inflação ainda é muito subida, próxima de 100%. O desemprego também está muito ressaltado”, comentou.
A produção industrial da Argentina registrou uma queda de -9,4% no aglomerado de 2024. Apesar do número negativo, a taxa é menor que a de abril de 2024, quando a indústria registrou uma retração de -15,4%, considerando os 12 meses anteriores. Os dados do Instituto Pátrio de Estatística e Censos da Argentina (Indec).
Por sua vez, o presidente Javier Milei tem sustentando que a economia está em “franca recuperação”, destacando uma vez que grande préstimo da sua gestão a queda da inflação e a redução das despesas públicas.
Pobreza
A recessão do país vizinho fez a pobreza disparar na Argentina de 38,7% da população, no primeiro trimestre de 2023, mal Milei assumiu o governo, para 54,8% da população no primeiro trimestre de 2024, segundo o Observatório da Dívida Social da Argentina, da Universidade Católica do país.
Ao longo do ano pretérito, os indicadores de pobreza melhoraram, chegando novamente em torno dos 38% da população no terceiro trimestre de 2024. Segundo os pesquisadores do Observatório, a queda na pobreza deve ser analisada com cautela, uma vez que outros serviços registraram aumento de custos.
“A queda do nível de pobreza não implica que as famílias tenham restaurado os níveis de consumo já reduzidos que existiam antes do ajuste: o aumento dos custos fixos dos serviços de transporte, informação, eletricidade, chuva, gás, etc. faz que a capacidade de consumir vitualhas e outros bens básicos na verdade caiu”, afirmam.
São consideradas pobres as famílias que têm uma renda que consegue estancar os custos da cesta básica de sustento, mas não sobra moeda para outros gastos, uma vez que saúde, instrução e roupas. Já a classificação de indigente é para as famílias que têm uma renda aquém do valor da cesta básica fomentar.
Outro indicador utilizado para medir a pobreza é a chamada pobreza multidimensional que, além de considerar a renda das famílias, avalia se elas têm aproximação a serviços básicos, uma vez que moradia digna, chuva, saneamento, serviço e seguridade social.
No caso desse indicador, houve uma piora em 2024, com a pobreza multidimensional passando de 39,8% em 2023 para 41,6% da população no ano pretérito. “Esses dados permitem-nos inferir na veras uma acentuação de privações estruturais entre as famílias sujeitas à pobreza de renda”, afirmou o Observatório.