Príncipe Harry diz que avisou Twitter sobre papel da plataforma em ataque ao Capitólio

BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – O príncipe Harry disse nesta terça-feira (9) que avisou por email o chefe-executivo do Twitter, Jack Dorsey, de que a rede social estava sendo usada para provocar agitação política na capital americana, um dia antes de manifestantes pró-Donald Trump invadirem a sede do parlamento dos EUA, em Washington.

A declaração do britânico foi dada em um painel online sobre desinformação promovido pela revista Wired. Ele tem buscado se firmar como um porta-voz do tema, com críticas à postura das plataformas de redes sociais no combate também ao discurso de ódio na internet.

“Jack [Dorsey] e eu estávamos trocando emails antes de 6 de janeiro, quando eu o avisei que sua plataforma estava permitindo que um golpe fosse encenado”, disse. “O email foi mandado um dia antes [do ataque ao Capitólio], então tudo aconteceu e eu nunca mais ouvi dele.”

À agência Associated Press, que noticiou o relato de Harry, o Twitter não comentou.

À época da invasão, que culminou na morte de cinco pessoas, Donald Trump, então presidente e já derrotado nas eleições, fez diversas publicações nas redes sociais alegando fraudes no pleito, o que nunca foi comprovado.

As acusações de Trump são tidas como um dos principais propulsores para a invasão ao Capitólio, mas as plataformas também foram acusadas de não agir, em seus algoritmos, para barrar o discurso de ódio e a desinformação que estimulam esse tipo de ataque. A visão de congressistas americanos é de que as empresas priorizam o crescimento e os lucros à frente da segurança pública.

Dias depois do ataque ao Parlamento, Trump teve sua conta no Twitter banida de forma permanente “devido ao risco de mais incitação à violência”. Desde então, ele vem lutando na Justiça para conseguir o perfil de volta.

Harry também acusou outras plataformas, como o Facebook, de hospedar desinformações sobre a Covid-19, afetando “bilhões de pessoas”, e sobre a mudança climática.

Segundo a AP, o príncipe britânico também atacou o YouTube, dizendo que muitos vídeos que divulgam informações incorretas sobre o coronavírus não foram censurados, apesar de violarem as próprias políticas do site.

“E pior, eles chegavam aos usuários por meio da ferramenta de recomendação do próprio algoritmo do YouTube, em vez de qualquer coisa que o usuário estivesse realmente procurando”, disse ele. “Isso mostra realmente que [essas desinformações] podem ser interrompidas, mas também mostra que eles [redes sociais] não queriam parar porque isso afeta seus resultados financeiros.”

No evento, Harry classificou a desinformação como uma crise humanitária global. “Eu senti os efeitos dela pessoalmente por muitos anos, e agora estou vendo isso acontecer globalmente.”

Sem entrar em detalhes, o príncipe criticou o termo ‘Megxit’, usado pela imprensa britânica para se referir à decisão dele e da mulher, Meghan Markle, de deixar de representar a realeza. “O termo é misógino, e foi criado por um troll, amplificado por correspondentes da família real, e cresceu para a grande mídia”, afirmou.

Em setembro, reportagem do jornal The Wall Street Journal apontou que a mudança de algoritmo do Facebook, anunciada em janeiro de 2018, aumentou a desinformação, a violência e os conteúdos agressivos na rede social. Ao descobrir o impacto da nova ferramenta, ainda não teria resistido a resolver o problema.

Em 2018, já imersa em polêmicas sobre os potenciais danos à saúde mental dos usuários e a disseminação de notícias falsas, a companhia dizia que o objetivo da mudança do algoritmo era aumentar as interações entre familiares e amigos e diminuir o consumo passivo, que envolvia conteúdos jornalísticos.

A reportagem afirma que esse não foi o único motivo, já que à época, o Facebook estaria enfrentando um momento de baixas interações, o que explicaria a inação da empresa frente às conclusões da pesquisa.

O texto fez parte dos chamados Facebook Papers, relatórios internos encaminhados à Comissão de Valores Mobiliários (SEC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos e fornecidos ao Congresso americano pelos advogados de Frances Haugen, ex-funcionária da empresa.

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