Os bancos centrais de todo o mundo estão transmitindo uma mensagem: um movimento lento e constante não vencerá a corrida contra a inflação.
“Se não aumentarmos as taxas agora, a inflação alta pode permanecer conosco por mais tempo”, disse o governador do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, depois de elevar as taxas de juros inesperadamente em meio ponto percentual na quinta-feira (22).
Embora a inflação esteja desacelerando em muitos países após mais de um ano de aumentos nas taxas de juros, ela permanece acima do nível de 2% que muitos bancos centrais têm como meta.
Aumentar as taxas de juros é a principal ferramenta que os BCs têm à sua disposição para reduzir a inflação. Ao mesmo tempo, pesquisas indicam que há um efeito defasado de pelo menos 12 meses desde o momento em que um banco central age até quando suas ações são sentidas em toda a economia.
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É por isso que o Federal Reserve interrompeu os aumentos das taxas de juros em sua reunião de junho, após 10 aumentos consecutivos desde março passado.
No entanto, muitas autoridades do Fed estão sinalizando que as taxas de juros podem subir novamente no próximo mês, pois, como Bailey, não querem correr o risco de perder o controle da inflação se não agirem agora.
Por que agora parece ser uma conjuntura tão crítica?
Os BCs têm um ato de equilíbrio muito delicado. Por um tempo, parecia que eles poderiam aumentar as taxas sem prejudicar significativamente suas economias.
Mas agora esse tempo está se esgotando. E com a inflação ainda mais alta do que eles gostariam, os riscos de fazer muito para reduzir a inflação são iguais aos de não fazer o suficiente.
Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, comparou recentemente os aumentos de juros a um avião voando para um destino.
“No início, o avião precisa subir abruptamente e acelerar rápido”, disse ela em um discurso que fez no início deste mês. “Mas, à medida que se aproxima da altitude alvo, pode reduzir a aceleração e manter a velocidade existente. O avião precisa subir alto o suficiente para chegar ao seu destino – mas não tão alto a ponto de ultrapassá-lo.”
“O avião ainda está subindo – e vai continuar até que tenhamos velocidade suficiente para planar de forma sustentável e pousar em nosso destino”, disse Lagarde duas semanas antes de o BCE aumentar as taxas de juros em um quarto de ponto percentual.
Os preços ao consumidor nos 20 países que usam o euro subiram 6,1% em maio, caindo de 7% no mês anterior.
Outra maneira de interpretar a analogia de Lagarde é que, se o avião não subir alto o suficiente para uma altitude segura, poderá enfrentar uma turbulência indevida que o impedirá de atingir seu destino de 2% de inflação.
Isso é exatamente o que preocupa os bancos centrais.
Inflação persistente pode continuar assim
Uma das razões pelas quais os bancos centrais têm tido dificuldade para reduzir a inflação é que certas partes da economia não estão respondendo aos aumentos das taxas.
Por exemplo, nos Estados Unidos, os preços dos serviços excluindo energia aumentaram 6,6% em relação ao ano passado, de acordo com os dados do Índice de Preços ao Consumidor de maio.
Embora os preços do ano passado tenham subido 5,2% em comparação com 2021, ficou claro que os preços elevados dos serviços estão rígidos.
É mais difícil para os bancos centrais conter a inflação quando ela se torna rígida ou persistentemente alta. Mas não é impossível.
É apenas uma questão de quanto estão dispostos a afetar uma economia por meio de aumentos de juros para levar a inflação ao nível desejado.
Demorar demais para tomar essa decisão traz suas próprias consequências, disse Michael Bordo, professor de economia e diretor do Centro de História Monetária e Financeira da Rutgers University.
“Quanto mais eles esperarem, mais aperto será necessário para reduzir a inflação”, disse ele à CNN. Isso porque pesquisas mostram que a inflação, se não for tratada, pode se tornar ainda mais rígida e mais difícil para os bancos centrais controlarem com aumentos de juros.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Por que luta global contra inflação pode ficar mais difícil no site CNN Brasil.