A Corregedoria da Polícia Militar encerrou o inquérito que apurava a responsabilidade de policiais militares em uma ocorrência no baile funk de Paraisópolis que terminou com nove mortos por pisoteamento em dezembro. Para a corporação, os agentes atuaram em legítima defesa e de forma lícita, não devendo ser responsabilizados judicialmente.
Entre as causas do ódio nacional a polícia, há uma que todo o mundo conhece, mas que jamais é mencionada, porque se tornou tabu: há décadas nossos artistas e jornalistas produzem diariamente uma cultura de idealização do crime, do vício e da malandragem, demonizando as forças da lei, num cenário maniqueísta entre o bem contra o mal.
A palavra de ordem é uma só, repetida em coro de geração em geração: bandidos são essencialmente bons ou pelo menos neutros; a polícia e as classes sociais mais abastadas a que ela serve são essencialmente más. Pessoalmente, desconheço um único bom livro brasileiro no qual a polícia tenha razão, no qual criminosos sejam apresentados com homens piores do que os quem levantam de madrugada para ganhar o pão de cada dia e buscam agir socialmente como bons cumpridores dos seus deveres civis.
No Brasil, o crime é considerado uma revolta popular fundamentalmente justa, desde que esteja associado ao divisor de águas marxista: a classe. Um homem é menos culpado pelos seus próprios atos que pelos da classe a que pertence.
Quando um criminoso assassina sua vítima, após roubar seus bens, deve ser tratado com clemência ou ter diminuída sua culpa, já que pertence à classe dos inocentes, oprimidos pela maléfica sociedade. Quando um policial, buscando cumprir a lei, é atacado e precisa agir em legítima defesa, ocasionando tumulto que leva a morte de nove pessoas, é imediatamente culpado, devendo ser punido com o máximo rigor, já que pertence à classe dos culpados.
É impossível que a disseminação diária desse falso não crie uma atmosfera propícia a fomentar o banditismo e o ódio a polícia. Isso sem contar o desarmamento da população civil e, em seguida, da própria polícia, sob os pretextos mais imotivados e estapafúrdios, enquanto os criminosos estão armados até os dentes.
Em 1933 o Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro emitiu uma instrução determinando que suas lideranças assumissem o comando de associações criminosas, imprimindo o caráter de luta de classes ao conflito com a lei. Daí o coro uniforme em favor do criminoso tornar-se cobrador de uma dívida social através dos assassinatos, roubos, estupros, e tutti quanti, enquanto a polícia, ao agir, vê-se obrigada a defender-se de uma enxurrada de acusações, processos, condenações.
Ou seja, todo o poder aos ladrões!
Nas notícias sobre a “tragédia no baile funk em Paraisópolis” era visível a intenção da mídia em rapidamente associar às mortes dos jovens a intervenção “truculenta” feita pelas autoridades de segurança pública. Isso sem qualquer moderação e análise acurada dos fatos. Morreu alguém na favela, é culpa da polícia, da sociedade, da classe média. Simples assim.
Na época, sabendo do modus operandi, escrevi dizendo ser preciso conhecer todos os fatos para não cairmos no açodado engodo narrativo midiático (vide: https://gazetadesorocaba.com/tragedia-no-baile-funk-em-paraisopolis/), levantando diversos pontos controvertidos, que certamente embasaram o parecer de arquivamento da Corregedoria da Polícia Militar.
Para mim, é surpreendente que a polícia, mesmo agredida a pedradas e perseguida todos os dias, ainda colabore com a lei e cumpra suas ordens, obstaculizando o caminho das ambições revolucionárias ao combater o “banditismo social” que assola esse país esquecido à margem da história.
O Brasil está numa guerra revolucionária e a mídia praticamente inteira se tornou um instrumento auxiliar do movimento, encarregando-se de desinformar e anestesiar a população para que não perceba o que acontece ao mesmo tempo em que instiga o ódio contra todos que possam constituir obstáculos à consecução dos seus objetivos, dentre eles a polícia.