Para muitos, a morte de Elizabeth foi encarada com indiferença na Índia

Horas antes do anúncio da morte da rainha Elizabeth II, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, apelou para que o país se livrasse dos seus laços coloniais, numa cerimônia que renomeou uma avenida dedicada ao rei George V e que, para o chefe do Governo, era um “símbolo da escravatura”.

Na visão de Modi, Rajpath, conhecida como Kingsway, criou “uma nova história” com a mudança de nome para Kartavya Path, simbolizando que o país se distanciou do seu passado colonial.

A avenida sustenta, agora, uma estátua em granito negro de Subhas Chandra Bose, um dos líderes mais respeitados do movimento de independência indiana do império britânico, no local onde, antes, estaria um busto do rei George V, avô de Elizabeth II.

Mais tarde, no mesmo dia, Modi destacou a dedicação da monarca britânica, que morreu aos 96 anos, no Castelo de Balmoral, na Escócia, após mais de 70 anos do mais longo reinado da história do Reino Unido. Além disso, as bandeiras do parlamento indiano, casa do Presidente, Forte Vermelho e outros escritórios do Governo em Nova Deli encontravam-se, no domingo, a meia haste. Os eventos de entretenimento oficiais também foram cancelados “como uma demonstração de respeito”, segundo o Ministério do Interior.

Ainda assim, se para uns a morte da soberana provocou um sentimento de empatia para com uma figura respeitada a nível mundial, para outros avivou memórias de uma história sangrenta sob a coroa britânica. Na verdade, para a maioria dos indianos, a notícia foi recebida com indiferença.

“Para os jovens indianos de hoje, [a monarquia] parece-se com qualquer outra família de celebridades – podem acompanhar as notícias porque querem saber o que está a acontecer atrás de portas fechadas. Mas, além do glamour e do fascínio das celebridades, não têm mais nenhum significado”, contou Darshan Paul à AFP, que tinha 10 ou 11 anos quando a rainha visitou Nova Deli com o marido, príncipe Philip, em 1961. A monarca passaria pela Índia também em 1983 e 1997.

Na ótica de Paul, quando o rei Charles III, que foi oficialmente proclamado monarca no sábado, visitar a Índia, a curiosidade e o entusiasmo em torno da sua visita não será tão elevado quanto seria no passado.

Para muitos, a família real continua representando uma história marcada pela violência e sofrimento que o império colonial gerou, desde a fome e a exploração económica, até ao derramar de sangue na Índia e no Paquistão.

Desde que conquistou a independência, a Índia afastou-se dos seus laços coloniais, particularmente através da alteração do nome de cidades nomeadas durante o império britânico. Além disso, na década de 1960, as autoridades removeram estátuas de figuras militares e da realeza britânica de locais públicos. Foi o caso da estátua do rei George V, que foi transferida para o Coronation Park, um ‘cemitério’ para os símbolos imperiais em Nova Deli.

Já na liderança de Modi, houve um esforço renovado em recuperar o passado da Índia, através da remoção de nomes de ruas da era colonial, de algumas leis, e até de símbolos de bandeiras.

Estes gestos “representam uma nova Índia” que não tem nada a ver com a monarquia, segundo Archana Ojha, professora de história da Universidade de Deli. Contudo, a seu ver, a história imperial do país não pode ser ignorada.

“Podemos não precisar de valorizar alguns destes legados, mas precisamos de os preservar para ensinar as nossas futuras gerações. Não podemos simplesmente apagá-los completamente”, apontou.

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