Duas mulheres completamente diferentes construíram uma bela amizade enquanto estavam internadas numa ala de pacientes graves de Covid-19, no Hospital Público Municipal Irmãs do Horto, em Macaé (RJ).
Mesmo com tantas dificuldades e separadas pela cortina da enfermaria, elas começaram a se comunicar e a se ajudar.
De um lado estava a Yamila Cunha, pensionista, que há 3 anos ficou cega e vivia sozinha e do outro, a Alessandra Nunes Gomes, cozinheira, que apesar de viver com 2 filhas biológicas e 4 filhos adotivos, fez uma promessa para a nova amiga: adotá-la quando ambas recebessem alta.
Internação
“Minha enteada veio aqui e disse: ‘tia, vou te levar pro hospital, você não está respirando direito’. Chegou lá, eu não consegui mais respirar, não conseguia nem abrir o olho e pensei… ‘tô morrendo’”, disse Alessandra.
Yamila foi internada quase ao mesmo tempo. “Tinha ido fazer hemodiálise, tava com febre e tossindo, aí a médica disse que precisava me encaminhar pro hospital, porque talvez era Covid”, disse a pensionista.
Assim, as duas se tornaram vizinhas de leito e entre dificuldades e bastante tempo disponível, uma amizade foi surgindo.
“Ela era minha boca e eu, os olhos dela”, disse Alessandra. “Eu não conseguia falar alto, ficava muito cansada quando tentava – então ela falava por mim“.
Laço de amizade
Foi nesse tempo, só falando entre a cortina, que a cozinheira percebeu que Yamila estava sozinha nesse mundo. Por semanas, o hospital tentou contato com a família da pensionista, mas não teve qualquer resposta.
Yamila, cega, com problemas renais graves e extremamente debilitada pela Covid, não teria como receber alta e ficar sozinha no quartinho em que vivia.
Foi aí que a Alessandra decidiu adotá-la. “Eu falei: ‘você vai morar comigo’ porque aí, dentro da minha casa, você terá companhia“.
A enfermeira Vivian de Sá acompanhou o crescimento da amizade entre Alessandra e Yamila. “Elas se tornaram companhia uma pra outra, pois estavam muito solitárias. Quando percebemos que esse contato era terapêutico, decidimos abrir a cortina (que as separava no leito)”.
Acolhimento
Coração de mãe sempre cabe mais um, né? E a casa da Alessandra é uma extensão do seu coração. Lá, mora ela, seu marido, duas filhas biológicas, duas nenês que ela adotou, uma sobrinha e agora a Yamila.
Para as filhas da cozinheira, a mãe é uma inspiração.
“Minha mãe está sempre disposta a tirar dela para dar aos outros. Com esse aprendizado, penso que, quando eu crescer, ser mãe, quero ser igual a ela. É uma inspiração de vida pra mim”, disse uma das filhas.
E foi assim que, com jeitinho, adaptando um espaço na sala, Alessandra criou um quartinho para Yamila. E tudo vem dando certo desde que elas receberam alta, especialmente com relação à rotina, uma vez que a pensionista precisa fazer hemodiálise 3 vezes por semana.
Rotina pesada
O dia da cozinheira é cheio: ela acorda todos os dias às 4 horas da manhã para preparar comida que ela vende por meio de entregas na região. Ela também é cuidadora de crianças (que recebe em sua casa) e agora ainda separa algumas horas para cuidar da amiga.
“Ela é uma pessoa que levanta, cansada do dia anterior todo cozinhando, fazendo quentinha e cuidando das crianças, pra me ajudar a ir ao banheiro… Sou muito, muito grata”.
Yamila nos ensina fé e resiliência em meio a tanto sofrimento passado… Já a Alessandra mostra que o caminho é servir e que, na verdade, fazemos parte de uma mesma família. O desconhecido de ontem pode se tornar uma mãe, um pai, uma irmã ou uma filha de hoje.
“Eu creio que tudo na vida tem um propósito. E que você é um dos meus propósitos, que não foi a toa que dividimos aquele quarto no hospital, que é muito grande, mas que ainda assim fomos parar uma do lado da outra”, disse Alessandra.
“Peço a Deus que eu permaneça na sua vida e você permaneça na minha. Te amo do fundo do meu coração“, concluiu Yamila.
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Fotos: Reprodução / Facebook: @DomingoEspetacular
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