SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira (2) que o governo federal precisa fazer algum movimento de choque fiscal positivo para que o país consiga voltar a conviver com taxas mais baixas de juros.
Segundo ele, o arrefecimento da Selic foi observado em alguns outros momentos da história brasileira recente. Campos Neto citou o superávit alcançado durante o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a aprovação do teto de gastos, da reforma da Previdência e, mais recentemente, do arcabouço fiscal.
“Tem um tema recente que é a transparência do número fiscal. Muita gente questiona se os números são transparentes, principalmente no que diz respeito ao cálculo do primário. A gente tem dito que é muito importante que o primário expresse um esforço fiscal no ano corrente”, disse ele durante evento da Veedha Investimento e da Aurum em São Paulo.
Neste ano, o governo Lula mudou a meta fiscal de 2025 e deixou de prever superávit para o próximo ano. O objetivo agora é zerar o déficit primário.
Segundo dados oficiais divulgados na proposta de Orçamento de 2025 e no quarto relatório de avaliação de receitas e despesas do Orçamento deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve encerrar seu mandato com déficit fiscal efetivo nos quatro anos da gestão.
“É muito difícil pensar que a gente vai conseguir trabalhar com juros mais baixos, de forma estável, sem ter uma perspectiva de convergência da dívida”, disse Campos Neto no evento.
O presidente do BC afirmou ainda que uma queda artificial nos juros levaria a uma correção pela inflação. Isso, segundo ele, causaria uma transferência de renda entre pessoas de diferentes estratos sociais.
“Quando a inflação sobe, a dívida melhora também, porque a arrecadação é nominal. Mas esse ajuste, quando é feito via inflação, é uma transferência de renda de quem não consegue se proteger da inflação para aqueles que conseguem se proteger; uma transferência de renda dos pobres para os ricos.”
Ainda durante o evento, Campos Neto elencou os principais desafios para a economia global. Segundo ele, outros países também convivem com desafios como dívida e juros altos, além da mudança estrutural de mão de obra causada pela pandemia.
De acordo com o chefe do BC, o mundo passa por um período de baixa produtividade, com ganhos concentrados no setor de tecnologia nos Estados Unidos. No Brasil, com exceção do agronegócio, o cenário também é ruim, disse.