(FOLHAPRESS) – A isenção do Imposto de Renda é um dos grandes atrativos ao escolher onde investir. Contudo, segundo especialistas, esse não deve ser um dos fatores decisivos.

 

“O termo ‘isento’ soa bonito, mas pode esconder um rendimento menor se você não fizer a conta. O que sobra no bolso importa mais do que o que parece vantajoso no papel”, diz Carol Stange, planejadora financeira.

Atualmente são isentos: debêntures incentivadas, LCIs, LCAs (Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio), CRIs, CRAs (Certificados de Recebíveis Imobiliário e do Agronegócio) e a poupança.

Já em renda variável não pagam IR dividendos de ações e de FIIs (Fundos de Investimento Imobiliário) e ganhos com vendas de ações abaixo de R$ 20 mil por mês.

Como o brasileiro tem a tendência de preferir os isentos, eles oferecem, muitas vezes, rentabilidades inferiores a produtos semelhantes, sem perder a atratividade.

“É um erro se ancorar só no fato de [o produto] ser isento de IR. Pode ser que, mesmo pagando imposto, outro [produto] renda ainda mais”, diz Rafael Haddad, planejador financeiro do C6 Bank.

Segundo especialistas, é preciso comparar produtos isentos e não isentos que sejam compatíveis em termos de emissor, garantia e tipo de rentabilidade (pós-fixada, prefixada ou híbrida). Por exemplo: dívidas emitidas por bancos com garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), como LCIs e LCAs, que são isentos, versus CDBs (Certificados de Depósito Bancário), que recolhem IR.
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SÃO GARANTIDOS PELO FGC

– depósitos à vista ou sacáveis mediante aviso prévio;
– poupança;
– depósitos a prazo, com ou sem emissão de certificado, como CDB e RDB
– depósitos mantidos em contas não movimentáveis por cheques destinadas ao registro e controle do fluxo de recursos referentes a prestação de serviços de pagamento de salários, vencimentos, aposentadorias, pensões e similares;
– LC (letra de câmbio)
– LH (letra hipotecárias)
– LCI (letras de crédito imobiliário)
– LCA (letras de crédito do agronegócio)
– LCD (letras de crédito do desenvolvimento)
– operações compromissadas que têm como objeto títulos emitidos, após 8 de março de 2012, por empresa ligada.
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Carol dá uma fórmula simples para o cálculo. É preciso multiplicar a rentabilidade bruta ofertada pelo investimento que paga IR pela alíquota que seria cobrada: rentabilidade bruta × (1 – alíquota de IR). Para valer a pena, a taxa ofertada pelos isentos precisa ser superior ao resultado dessa conta.
Exemplo:

Suponha que um CDB ofereça 100% do CDI para um prazo de dois anos (com IR de 15%).

Nesse caso, o rendimento líquido do CDB seria: 100 x (1 – 0,15) = 85% do CDI
“Ou seja, para que uma LCI ou LCA compense ante esse CDB, ela precisaria render pelo menos 85% do CDI”, diz a planejadora.

De acordo com levantamento do C6, atualmente, a média do mercado para uma letra de liquidez diária é uma rentabilidade de 90% do CDI, o que rende cerca de 13,09% ao ano.

Sem liquidez diária, esses produtos estão a 98% do CDI (14,26% ao ano). Os prefixados estão a 13,80%, e os híbridos, a IPCA mais 7,60%, o que seriam 12,93%, segundo as projeções de inflação.

Já um CDB com liquidez diária pode ser encontrado a 102% do CDI. Líquido, isso significa uma rentabilidade de 12,24%, abaixo das letras isentas, de acordo com o estudo do banco. O mesmo vale para a média de CDBs sem liquidez diária e atrelados ao IPCA, que oferecem, considerando o IR, 12,60% e 11,66%, respectivamente.

“Na prática, escolher entre CDB e LCI ou LCA é como escolher entre dois caminhos para o mesmo destino: o melhor não é o que parece mais curto no mapa, mas o que realmente te leva mais longe sem custos escondidos”, diz Carol.

Já CRIs, CRAs e debêntures não são protegidos pelo FGC. Dessa forma, devem ser comparados a títulos públicos de vencimento semelhante.

Na semana passada, o Tesouro prefixado (LTN) 2028 oferecia 13,5% ao ano. Já o Tesouro Selic (LFT) 2031 pagava Selic mais 0,1126%. O Tesouro IPCA+ (NTN-B) de 2029, IPCA + 7,41%.

“Por serem isentos, CRIs, CRAs e debêntures incentivadas podem gerar remuneração marginalmente maior, mas é preciso analisar risco em relação ao retorno”, diz Rafael Winalda, especialista em renda fixa do Banco Inter.

Segundo o analista, apesar de os retornos ofertados por esses produtos estarem altos, acompanhando uma Selic que caminha para 15% ao ano, os spreads (diferença entre taxas) em relação aos títulos públicos estão apertados.

“Apesar de as taxas terem subido, os spreads estão em um dos menores patamares desde 2020. Tem que garimpar bem e saber o que está comprando”, afirma Winalda.

Segundo ele, debêntures com a melhor avaliação de risco (AAA) estão pagando um ponto percentual a mais que os títulos públicos equivalentes. Na média dos últimos cinco anos, esse retorno é de 1,5 a 2 pontos percentuais.

Segundo Rafael Haddad, do C6, o ideal é analisar o emissor e buscar produtos avaliados como AAA pelas agências de classificação de risco.

No entanto, grande parte de CRIs, CRAs e debêntures têm uma taxa mínima de investimento e prazos de vencimento elevados.

Para driblar esses entraves, o especialista recomenda fundos de investimentos de renda fixa que compram produtos isentos de IR, de modo que o cotista também fica isento.

“Com tíquete mínimo menor e liquidez maior, o fundo investe em diversos papéis, o que dilui o risco. É uma ótima saída para quem está começando a investir”, diz o analista.

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