ALEXANDRE BARRETO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O caso do juiz brasileiro que é acusado de utilizar identidade falsa por 45 anos ganhou repercussão internacional. O jornal The Guardian publicou uma reportagem com a história de José Eduardo Franco dos Reis, suspeito de ter atuado por mais de duas décadas sob o nome de Edward Albert Lancelot Dodd Canterbury Caterham Wickfield.
A reportagem do jornal inglês questiona como uma identidade forjada passou por tantos filtros institucionais sem ser contestada. “Os brasileiros ficaram atordoados, tentando entender como um juiz poderia sustentar um engano tão elaborado por tanto tempo, especialmente com um nome tão incomum”, escreveu o The Guardian.
O jornal inglês classifica a história como uma “farsa bem elaborada” e aponta ainda que José Eduardo, em depoimento, indicou ter um irmão gêmeo que foi adotado por um casal da nobreza britânica. “Ele não deu mais explicações”, ressalta.
A reportagem cita textos da Folha sobre o caso, como a entrevista dada pelo ex-magistrado em 1995, quando se declarou descendente da nobreza europeia, a suspensão de seus pagamentos pelo Tribunal de Justiça de São Paulo após a descoberta do caso e um levantamento que aponta que os nomes usados pelo juiz fazem referência a personagens da literatura inglesa -além da coluna de Antonio Prata, que trata sobre o assunto.
A fraude foi revelada quando o ex-juiz foi tirar a segunda via do RG, no Poupatempo da Sé, em outubro de 2024. As digitais cruzadas com o banco de dados revelaram o nome verdadeiro, diz o Ministério Público.
O MP de São Paulo denunciou o ex-juiz por falsidade ideológica e uso de documento falso. A denúncia foi apresentada em fevereiro, e o Tribunal de Justiça abriu um procedimento administrativo no início de abril. O processo corre sob sigilo.