BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) – O novo primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, defendeu em seu primeiro discurso reformas estruturais para “proporcionar um país melhor e mais justo para nossos filhos e netos”. Algumas delas, segundo ele, “dizem respeito a problemas que estão em aberto há décadas, mas não devem ser esquecidos”. O foco são insegurança nos regulamentos e planos de investimento público, “que limitam o investimento de italianos e estrangeiros”.
Sob críticas por ter formado um ministério com poucas mulheres (8 entre os 25 cargos) e políticos jovens, ele afirmou que o país precisa melhorar as oportunidades para os dois grupos. “A verdadeira igualdade de gênero não significa um respeito farisaico pelas cotas para mulheres exigidas pela lei”, disse, afirmando que as mulheres italianas sofreram “uma das piores disparidades salariais da Europa”, “escassez crônica” em cargos de direção e devem ter igualdade nas condições de trabalho.
Draghi também afirmou que fará um governo “fortemente pró-Europa”. “Apoiar este governo significa compartilhar a irreversibilidade da escolha do euro e a perspectiva de uma União Europeia cada vez mais integrada”, afirmou o premiê -que, apesar de ser chamado de Super Mario justamente por sua atuação pela preservação do euro, tem em sua coalizão partidos “fortemente anti-Europa”.
A declaração do novo premiê veio um dia depois de pronunciamento antagônico de um dos mais eurocéticos de seus novos aliados, o populista Matteo Salvini, líder do partido de direita radical Liga.
“Draghi disse que o euro é irreversível? Apenas a morte é irreversível, felizmente. A única coisa que não tem remédio é a decisão do bom Deus”, afirmou ele em entrevista a uma TV italiana na terça. Os discursos contraditórios dão uma pista de como deve ser a dinâmica do novo governo italiano, baseado em uma ampla coalizão bastante heterogênea, com integrantes que vão da esquerda à direita extrema.
Unidos para garantir a governança em meio a uma série crise na economia e na saúde, provocada pela pandemia de coronavírus, eles devem manter seus discursos tradicionais, de olho na próxima eleição presidencial italiana, no ano que vem.
Ex-presidente do Banco Central Europeu, Draghi nunca disputou um cargo político, mas é hoje a figura pública mais popular da Itália, com 60% de aprovação, segundo pesquisas.
O fato de que os juros cobrados em empréstimos à Itália caíram depois que ele assumiu o governo mostra que a expectativa geral é que ele vai priorizar a reconstrução econômica do país, sem aventuras heterodoxas.
Uma de suas primeiras tarefas será coordenar o projeto de retomada para ter aprovados os repasses de cerca de 210 bilhões de euros (R$ 1,37 tri) dos fundos pós-pandemia da União Europeia.
No pronunciamento, ele afirmou que o papel do Estado deve ser “avaliado cuidadosamente” e se concentrar em áreas como pesquisa e desenvolvimento, educação, incentivos, regulamentação e tributos.
Sua prioridade de curto prazo, segundo o premiê, será o combate à pandemia -a Itália foi um dos países europeus mais atingidos pela primeira onda de Covid-19 e o confinamento rigoroso implantado para combatê-lo deve significar uma queda de quase 9% do PIB em 2020. Dados mais recentes do ECDC (centro europeu de controle de doenças) mostram queda nos números de casos, hospitalizações e mortes nas últimas semanas.
Draghi apresentou seu novo governo ao presidente Sergio Mattarella na última sexta (13) e assinou sua posse no sábado (14). Nesta quarta, deve receber o voto de confiança do Senado – a sessão está marcada para as 22h (horário local, 18h no Brasil) – e, na quinta, será a vez da Câmara dos Deputados.
No discurso aos parlamentares, apelou por união: “Hoje, a unidade não é uma opção; a unidade é um dever. Mas é um dever impulsionado pelo que tenho certeza que une a todos: o amor pela Itália”.
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