SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar avança nesta sexta-feira (28), com investidores avaliando dados de emprego no Brasil e de inflação nos Estados Unidos. Ainda são destaque os planos tarifários presidente norte-americano, Donald Trump.

 

Às 13h35, a moeda subia 0,26% e estava cotada a R$ 5,772, caminhando para fechar a semana em alta. Já a Bolsa caía 1,18%, aos 131.569 pontos.

A inflação medida pelo PCE (índice de preços de gastos com consumo, na sigla em inglês) subiu 0,3% em fevereiro, após ter avançado iguais 0,3% em janeiro. O resultado veio exatamente em linha com as expectativas de analistas consultados pela Reuters.

A base anual também se manteve inalterada em relação ao mês anterior, com avanço de 2,5%.

O núcleo do PCE – que exclui os componentes voláteis de alimentos e energia- subiu 0,4%, após um avanço de 0,3% em janeiro. Nos 12 meses até dezembro, teve alta de 2,8%, de 2,7% em janeiro.

O PCE é o indicador preferido do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) para balizar as decisões de política monetária. Na semana passada, a autarquia optou por manter os juros na faixa de 4,25% e 4,5% pela segunda vez consecutiva.

Com os dados de inflação em mãos, a maioria dos investidores agora aposta que a autoridade monetária irá cortar os juros em 0,25 ponto percentual em junho e em setembro. Uma terceira redução, em dezembro, também está sendo especulada pelos operadores, à medida que uma série de indicadores tem indicado que a economia dos Estados Unidos está passando por um processo de desaceleração.

Os temores se acirraram diante das políticas comerciais voláteis do governo Trump. Nesta semana, o republicano anunciou tarifas de importação de 25% para o setor automotivo. A medida entrará em vigor em 2 de abril -o apelidado “dia da libertação”, quando tarifas recíprocas sobre outros países entrarão em vigor.

A reciprocidade tarifária mira espelhar as taxas praticadas sobre produtos norte-americanos. Japão, Índia e União Europeia são os maiores alvos, segundo disse um funcionário do alto escalão do governo em fevereiro, e um documento informativo da Casa Branca também acrescentou o Brasil à lista.

“Caso as medidas em 2 de abril sejam direcionadas apenas aos países com os quais os EUA têm grandes déficits comerciais ou que tem participação relevante no comércio norte-americano, o Brasil provavelmente não será impactado inicialmente”, disseram analistas do BTG Pactual em relatório.

“Contudo, se forem aplicadas tarifas generalizadas a setores específicos, como ocorreu recentemente com o aço, ou se os critérios incluírem países com barreiras comerciais superiores às norte-americanas, o Brasil poderá ser diretamente afetado.”

Reportagem da Folha de S.Paulo aponta que, caso o país esteja na lista de afetados pela reciprocidade tarifária, as taxas incidirão sobre todos os produtos importados pelos Estados Unidos, sem exceções.

Uma autoridade da Casa Branca disse que ainda não foi definido se o Brasil será ou não atingido pela política. Mas a abordagem, se o país entrar no grupo de tarifados, será linear (countrywide) e valerá para toda a pauta exportadora brasileira aos EUA, segundo essa mesma fonte.

O tarifaço tem gerado temores nos mercados pelo impacto potencial na economia mundial. O principal receio é que ele aumente a inflação em uma ampla gama de produtos e distorça cadeias de suprimentos globais, especialmente se os países afetados revidarem com mais impostos.

“O ambiente continua sendo de bastante incerteza. Os anúncios têm sido feitos de maneira inesperada. Não se sabe até que ponto eles representam um instrumento de negociação ou se serão perenes nos próximos quatro anos de governo Trump”, comenta Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

“Essa insegurança sobre as tarifas e as preocupações sobre uma desaceleração econômica dos Estados Unidos estão mantendo os investidores pessimistas e avessos ao risco.”

Até o momento, após uma série de ameaças e recuos, Trump já implementou uma tarifa de 20% sobre produtos chineses, taxas de 25% sobre importações de aço e alumínio e tarifas de 25% sobre mercadorias de México e Canadá que violem as regras de um acordo comercial da América do Norte.

Já na ponta doméstica, a taxa de desemprego subiu a 6,8% no trimestre até fevereiro como esperado, apontou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O indicador estava em 6,1% no intervalo até novembro, que serve de base de comparação. Esse foi o menor patamar de toda a série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012.

Considerando somente o trimestre até fevereiro, a taxa de 6,8% repete a mínima da pesquisa. O mesmo número havia sido registrado no início de 2014.
Na avaliação de economistas do Bradesco, os dados do mercado de trabalho de janeiro e fevereiro “continuam demonstrando resiliência, com aumentos importantes da população ocupada e dos salários”.

“O resultado de hoje é condizente com o nosso cenário de um primeiro trimestre ainda robusto, e uma desaceleração gradual da economia que ficará mais clara a partir da segunda metade do ano.”

O mercado também aguarda dados de criação de empregos formais em fevereiro no Brasil, aferidos pelo Caged (Cadastro Geral de Desempregados).

Analistas esperam que o resultado venha acima das estimativas de 225 mil vagas abertas, o que, por denotar uma economia ainda aquecida, pauta o mercado de juros futuros.

Os contratos subiam em todos os pontos da curva. A taxa para janeiro de 2026, que representa a política monetária no curtíssimo prazo, estava em 15,13%, ante 15,10% do fechamento de quinta.

Para janeiro de 2027, a taxa subia para 15,04%, ante 15% da véspera. Janeiro de 2028 registrava 14,845%, ante 14,795%, e janeiro de 2029 via a taxa em 14,82%, contra 14,78%.

A pressão na curva de juros se refletia também no Ibovespa, com as principais perdas vindo de papéis voltados ao consumo doméstico. Magazine Luiza, por exemplo, caía mais de 4%; Lojas Renner, 2%. As pesos-pesados Vale e Petrobras também estavam no campo negativo, ajudando a puxar o índice para baixo.