“Mosca branca”. Nesse caso, descrição atribuída a um musicista que brincava pelas ruas sem asfalto, nos periferia da morada em que viveu quando rapaz, no bairro do Bom Retiro, em São Paulo. Compositor de uma das canções que mais marcaram a puerícia de muitos brasileiros, a que começa com os seguintes versos: Numa folha qualquer/Eu escorço um sol amarelo.
Um dos principais expoentes da música popular brasileira (MPB), Antonio Pecci Fruto, que adotou o nome artístico Toquinho, ganhou, aos 78 anos, um documentário que permite que os espectadores revivam com ele sua história, recheada de lembranças bem-humoradas e o cintilação único de amizades de longa data.
Dirigido por Erica Bernardini, o filme Toquinho: Encontros e um Violão dá ênfase ao entrecruzamento da vida do musicista com a Itália, repetido muitas vezes ao longo dos anos. Foi, inclusive, nesse contexto que compôs a famosa música Aquarela, que, há quatro décadas, encanta crianças de todo o Brasil. E da Itália também, já que se pode expressar que metade dela é geração sua e metade do italiano Guido Moura. Toquinho conta que Moura já tinha feito secção da melodia e que ele a completou.
O musicista relata que, certa vez, foi parar no Velho Mundo por conta de um invitação de seu íntimo companheiro Chico Buarque, de quem é próximo desde a juventude. Chico havia se mudado para Roma no início da ditadura civil-militar, em 1969, com a portanto esposa, a atriz Marieta Severo, pejada da primeira filha do par.
Embora nessas e em outras narrações, Toquinho seja capaz de somar comicidade, também demonstra ter sensibilidade e a devida seriedade ao compartilhar o caso de um companheiro que foi perseguido pelos agentes de repressão.
Ele e outro parceiro na arte, o violonista e compositor gaúcho Lupicínio Moraes Rodrigues, mais divulgado porquê Mutinho, explicam no documentário que a melodia Lembranças foi uma forma de homenagear um companheiro, Tenório, que foi torturado e assassinado pelos militares.
A letra remete às arbitrariedades da ditadura: Pedro seguiu seu caminho/Chico pediu pra permanecer/Tenório saiu sozinho na noite: sumiu, ninguém soube explicar/Outros amigos se foram/Guardando seus ideais/Entre verdade e delírio/Uns semearam saudade no exílio/Outros não voltam nunca.
Mutinho assinou um dos álbuns mais celebrados, o Mansão de Brinquedos, com faixas de gente tarimbada, porquê Moraes Moreira, Chico Buarque e Tom Zé.
Outra vivência de Toquinho, tratada com igual delicadeza, é o acidente de seu irmão, João Carlos Pecci. João Carlos fala de Toquinho com imenso paixão e diz que perdeu o movimento das pernas em seguida seu carruagem tolerar uma colisão, no caminho de um show de Nara Leão.
João Carlos, depois do acidente, passou a se destinar à escrita e, logo que finalizou sua primeira obra, pediu ao irmão que lesse, para expressar o que achava. Toquinho entregou a ele uma fita cassete, com a melodia Meu irmão gravada. “Está cá a resposta”, disse Toquinho a ele.
Emocionante, a música tem uma mensagem de pura conexão fraternal: Você meu grande herói/Mais poderoso que o inimigo/Você, metódico companheiro, meu distante companheiro/Você, que o tempo inteiro não tem pavor do transe, não.
Além de dividir memórias de seu círculo mais próximo, vai, ao longo do documentário, refazendo seu caminho sem deixar de fora os momentos em que se sentiu inseguro na curso. Ressalta, por exemplo, que, no território italiano, teve patente receio de tocar em uma morada de shows vazia.
Isso contrasta com os primeiros passos no aprendizagem do violão, quando, extremamente esperançoso, quis saltar do simples dedilhar a ocupar horários na agenda de grandes mestres, o que acabou conseguindo.
E tudo se desdobrou não sem sua dedicação, o que sublinha até hoje porquê sua marca. Toquinho afirma que toca todo dia. “Sinto falta da força física da música”, justifica.
Quanto à parceria mais longeva, com o musicista, poeta, dramaturgo e jornalista Vinicius de Moraes, uma das opiniões que buscam sintetizá-la é a do apresentador televisivo Pedro Bial, que diz que Toquinho “era tão herético e livre” quanto Vinicius. Para Bial, a dupla respeitava, com suas composições, “uma nobreza que não ficava presa em ternos e gravatas” e, por isso, cativava muito facilmente.
O documentário, que também apresenta um rico montão de fotos, incluindo uma de Toquinho com Bob Marley e craques do futebol brasílico, foi realizado no contextura dos 150 anos da Imigração Italiana no Brasil, promovido pela Embaixada da Itália.
O filme pode ser presenciado gratuitamente até o próximo domingo (8), pelo site Toquinho: Encontros e um Violão. A produção faz secção do Festival de Cinema Italiano no Brasil.
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