JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Ministros de 27 países integrantes da União Europeia estão reunidos nesta segunda-feira (7) para discutir a lista de produtos americanos que sofrerão retaliação do bloco. Essa é a pauta inicial em Luxemburgo, mas, com mercados em pânico e bolsas europeias flertando com dois dígitos de queda, o encontro deve expor também as divisões internas sobre qual seria a reação mais apropriada para reduzir danos à economia europeia.

 

Manifestações na entrada do encontro já davam uma medida da amplitude de opiniões que cercam o tema no continente, com a ministra de Comércio Exterior da Holanda, Reinette Klever, pedindo calma, e o ministro da Economia da Alemanha, Robert Habeck, por outro lado, exigindo ação e descartando medidas seletivas na reação às tarifas impostas pela administração Donald Trump.

“A Europa está sempre pronta para um bom acordo”, ponderou horas mais tarde a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, revelando que a UE propôs a Trump a abolição de todas as tarifas sobre produtos industriais de ambos os lados. “Oferecemos tarifa zero por tarifa zero”, declarou von der Leyen pouco antes das Bolsas americanas abrirem.

Comissário de Comércio da UE, Maros Sefcovic também demonstrou esperança nas negociações, mas afirmou que a primeira fase de retaliações dirigidas começaria em 15 de abril e a segunda, em 15 de maio.

É a primeira resposta do bloco, que ganhou uma sobretarifa de 20% sobre produtos despachados para os EUA a partir de quarta-feira (9). A UE já está sofrendo 25% sobre as vendas de aço, alumínio e, desde a semana passada, igual percentual sobre a exportação de veículos. A reunião em Luxemburgo decide a amplitude da primeira fase, que já tem previsão legal, pois aproveita pacote elaborado durante o primeiro governo Trump.

É focada em ícones da produção americana, como as motos Harley Davidson e o uísque tipo bourbon. Mira também as contas de estados republicanos, tarifando, por exemplo, a produção agrícola da Louisiana. Aqui já começam os problemas. França e Itália pedem a exclusão do bourbon, pois Trump ameaçou elevar para 200% a taxação sobre vinhos e espumantes.

Outro item na mesa de negociações é uma lista de 99 páginas, com produtos americanos que vão de camisola a fio dental, passando por diamantes, que poderia alcançar US$ 28 bilhões (R$ 156,9 bilhões) em retaliações. “Todas as medidas da UE devem ser pensadas para levar os EUA de volta à mesa de negociações”, declarou o ministro de Comércio Exterior da Irlanda, Simon Harris.

Se a calibragem da reação a Trump já é uma questão complexa, efeitos colaterais do tarifaço também afloram diferenças entre os políticos europeus. O governo espanhol, nesta manhã, voltou a pedir a ratificação do tratado UE-Mercosul, que há poucos dias foi alvo de críticas da França. Uma dezena de países se posiciona contra o acordo como ele está e exigem, entre outras mudanças, gatilhos para equalizar eventuais distorções entre as duas zonas de livre comércio.

Preocupam também os prognósticos de uma inundação de produtos europeus, antes voltados para exportação, no próprio mercado do bloco, que pode ter efeitos perigosos no longo prazo, como deflação. Cálculos estimam que 70% das exportações da UE para os EUA serão afetadas, responsáveis pela entrada de € 532 bilhões (R$ 3,37 bilhões) só no ano passado.

Bruxelas já prepara também contramedidas para frear a entrada de mercadorias de países como China e Vietnã, fortemente atingidos pelo tarifaço de Trump, que vão procurar alternativas para suas produções. Na semana passada, em sua primeira manifestação após o “Dia da Libertação” de Trump, Von der Leyen expressou preocupação com o dumping. “Não podemos absorver o excesso de capacidade global nem aceitaremos o dumping em nosso mercado”, declarou a presidente da Comissão Europeia.