SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Colômbia começou, no último domingo (4), a vacinação contra a Covid-19 feita por empresas privadas, mas a medida criada para acelerar a imunização da população já causou polêmica, após um executivo da Rappi sugerir que a companhia priorizaria os entregadores mais eficientes.
A iniciativa faz parte de um programa liderado pela Andi, associação nacional de empreendedores colombianos, em parceria com o governo do país.
A primeira empresa a vacinar seus colaboradores foi a Telefónica, que anunciou que priorizaria os trabalhadores que fazem atendimento aos clientes.
No caso da Rappi, a empresa está sendo acusada de discriminação e de adotar práticas consideradas antiéticas. Em entrevista à radio Blu, o diretor de Relações Públicas do aplicativo de entregas, Juan Sebastián Rozo, anunciou a compra de 4.000 doses de Sinovac para imunizar 2.000 entregadores nas cidades de Bogotá, Medellín, Barranquilla e Cali.
“A prioridade está sendo dada aos entregadores que mais prestam serviços, aos que tiverem mais pedidos e quem estiver mais conectado. Nosso objetivo é dar ferramentas de proteção aos entregadores que prestam mais serviços”, acrescentou o executivo.
O temor é que a empresa estimule a competição pela vacina entre os seus entregadores, em troca de mais eficiência. “Pedalar por uma vacina é cruel”, afirmou uma emissora de rádio do país.
Procurada pela reportagem, a Rappi disse que apoia os entregadores parceiros que estão mais expostos à contaminação e não pertencem aos grupos prioritários na Colômbia. “Nosso único propósito é ajudar a conter o contágio e contribuir para o fortalecimento das estratégias de saúde pública.”
A empresa lamentou que a iniciativa tenha sido interpretada de outra maneira e pediu desculpas. “Temos orgulho de contribuir de alguma forma para voltarmos à normalidade o mais rápido possível nos termos em que a lei nos permitir”, disse, em nota.
O programa de vacinação comandado pelas empresas colombianas planeja a imunização de 1,25 milhão de funcionários de mais de 5.900 companhias. De acordo com a associação das empresas, essa é a parceria público-privada mais importante já feita na Colômbia, em que o governo disponibilizou todo o mecanismo de aquisição de vacinas e os empresários entraram com os recursos.
“Estamos cumprindo o compromisso que fizemos com o presidente, Iván Duque, de buscar complementar o Plano Nacional de Vacinação e amparar uma boa parcela da população”, disse em entrevista Carlos Jurado, diretor da Câmara Setorial de Saúde da Andi.
O ministro da Saúde do país, Fernando Ruiz, estima que a Colômbia alcançou até o fim de junho mais de 26 milhões de vacinas recebidas de diferentes farmacêuticas, como Pfizer, Sinovac, Janssen e AstraZeneca.
“A Colômbia é hoje o quarto país da América Latina em número de vacinas aplicadas e o segundo em velocidade de aplicação desde o início dos diferentes programas.”
No Brasil, também se discutiu a compra de vacinas por parte de empresários, mas a proposta também gera polêmica. Os defensores da ideia argumentam que as empresas poderiam acelerar o processo de imunização, entrando com recursos próprios e desafogando o SUS (Sistema Único de Saúde), ao tirar seus funcionários da fila da vacina.
Quem é contrário, por outro lado, argumenta que a medida seria uma tentativa de enfraquecer o SUS e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), ao tirar o poder regularizador da agência, além de ser inconstitucional. Esses especialistas também defendem que faz mais sentido acelerar o programa público de vacinação do que permitir que empresas “furem a fila”.
Há iniciativas nesse sentido no Congresso, como o PL (projeto de lei) 3.982/20. Em abril, a Câmara dos Deputados aprovou o texto-base do PL 948/21, que fala da compra privada de vacinas.
Notícias ao Minuto Brasil – Mundo