GIULIANA MIRANDA
MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Os anfíbios são o grupo de vertebrados mais ameaçado do planeta, com 2 em cada 5 espécies ameaçadas de extinção. Além do desmatamento e da poluição, esses animais enfrentam ainda uma doença infalível: a quitridiomicose, atualmente a principal responsável pelo declínio dessas populações.

 

Os fungos do gênero Batrachochytrium, que causam a enfermidade, vêm se espalhando em ritmo veloz pelo mundo. Agora, um grupo de cientistas registrou pela primeira vez a presença em larga graduação desse patógeno no Brasil.

Por meio de análises genéticas -que envolveram um extenso trabalho de campo para realizar testes PCR nos animais- os pesquisadores identificaram fungos da espécie Batrachochytrium dendrobatidis (Bd) em uma grande quantidade de animais em áreas de caatinga e de floresta úmida no Ceará.

O trabalho se concentrou nos anfíbios anuros -ordem que inclui sapos, rãs e pererecas. Os resultados indicaram que 71% das espécies avaliadas tiveram resultado positivo, incluindo registros inéditos de infecção para 11 espécies endêmicas, o que representa um risco real para a biodiversidade lugar.

Algumas dessas espécies vivem em florestas úmidas de altitude, porquê a Proceratophrys ararype e a Pristimantis relictus, que já enfrentam pressões ambientais significativas.

Primeira autora do trabalho, publicado no termo do ano pretérito no periódico South American Journal of Herpetology, Mirian dos Santos Mendes diz que a dimensão da prevalência do fungo surpreendeu os cientistas, assim porquê a presença do patógeno em regiões mais secas.

“Pesquisando na literatura, nós víamos que os registros eram maiores em áreas altas, úmidas e chuvosas”, disse Mendes, pesquisadora da Universidade de Kaust, na Arábia Saudita. “Para a nossa surpresa, os resultados dos testes mostraram muitas espécies [contaminadas], inclusive em áreas mais baixas e mais áridas durante o ano, porquê nas localidades de Farias Brito e Campo Sales [ambas no Sul do Estado]”.

Apesar da ampla presença do fungo, a maioria dos animais não tinha sinais externos visíveis da infecção. Segundo os pesquisadores, isso é particularmente preocupante, pois o patógeno pode estar se propagando silenciosamente na região do semiárido.

“Estar com o fungo não significa, necessariamente, ter a doença. Algumas espécies têm maior resistência. Depende de vários fatores, inclusive de porquê é a pele do bicho e se ele passa mais tempo na chuva ou no solo”, completa Mendes.

A presença disseminada da espécie Bd, todavia, amplia as chances de propagação da quitridiomicose, que já é considerada uma zoopandemia. Nela, os fungos atacam a epiderme, causando um aumento da queratinização e espessando a classe externa da pele, que é principal para a respiração e a regulação da temperatura corporal desses animais.

“É uma morte horroroso. O bicho praticamente morre sufocado”, explica a professora.

No trabalho de campo, um tipo da espécie Boana raniceps foi encontrado com sintomas visíveis de quitridiomicose: manchas brancas características na pele. Oriente foi o primeiro registro de cientistas de um réplica com sintomas visíveis da doença na caatinga.

Os pesquisadores destacam ainda o impacto do desmatamento e das mudanças climáticas na disseminação do fungo e na isenção dos anfíbios.
Eventos climáticos extremos, porquê secas prolongadas e períodos de altas temperaturas associados ao El Niño, podem enfraquecer a resposta imunológica dos anfíbios, tornando-os ainda mais suscetíveis à infecção pelo fungo.

“Nós vivemos uma quadra de mudanças climáticas que devem deixar as temperaturas cada vez mais altas e, portanto, mais favoráveis para que o fungo, e consequentemente a doença, consigam se difundir ainda mais”, alertou Felipe Mendes, professor do Instituto Federalista do Ceará e coautor do trabalho.

“No Panamá, esse fungo causou uma vaga de extinções enorme, catastrófica”, destacou. “O país está na traço do Equador, é muito quente e muito úmido. Muitas espécies endêmicas de lá sofreram.”

A perda de habitat e a fragmentação das florestas, muitas vezes impulsionadas por mudanças climáticas e ações humanas, também estão associadas ao aumento de infecções.

Uma série de trabalhos já identificou que anfíbios em florestas fragmentadas têm uma volubilidade imunogenética reduzida, o que os torna mais vulneráveis às enfermidades.

Professora da Universidade Federalista do Ceará e orientadora da pesquisa, que nasceu porquê um mestrado no programa de pós-graduação em sistemática, uso e conservação da biodiversidade na instituição, Denise Hissa destaca a relevância de investir no monitoramento e no manejo das áreas afetadas.
Segundo ela, uma vez que o fungo está presente em um envolvente oriundo, as opções de tratamento são muito limitadas. O foco principal passa a ser prevenir a disseminação para novas áreas, monitorar as populações afetadas e realizar mais estudos para entender melhor o impacto e possíveis formas de mitigação.

“Precisamos melhorar as políticas e as estratégias e publicar os cuidados necessários. Há locais no Ceará que ainda deram negativo para o fungo”, afirmou a docente.