A China reagiu com firmeza às críticas dos Estados Unidos sobre seu crescente envolvimento em um projeto astronômico no Chile, aumentando as tensões diplomáticas entre as duas potências. Em uma coletiva de imprensa realizada na terça-feira (29) em Santiago, o embaixador chinês Niu Qingbao acusou Washington de tentar interferir na soberania do Chile e de espalhar desinformação sobre o projeto.
O empreendimento, fruto de um acordo firmado em 2023 entre o Observatório Astronômico Nacional da China e a Universidade Católica do Norte, visa a construção de um telescópio de alta resolução no deserto do Atacama — uma das regiões mais propícias para observações astronômicas no planeta. O equipamento seria utilizado para estudar objetos próximos da Terra, como asteroides e cometas.
Entretanto, o projeto tornou-se alvo de preocupação por parte dos Estados Unidos, em meio à disputa geopolítica com a China por influência na América Latina. Em abril, durante sabatina no Senado norte-americano, Brandon Judd — indicado pelo ex-presidente Donald Trump para o cargo de embaixador no Chile — afirmou que buscaria reforçar a presença dos EUA no país e limitar o acesso chinês aos seus recursos estratégicos.
“Seja na Antártida, na pesca ou na conservação marinha, somos os melhores parceiros para o Chile”, declarou Judd. “Vamos continuar aprofundando nossos laços e restringindo a influência da China.”
A senadora democrata Jeanne Shaheen também manifestou preocupação com o avanço de Pequim na região, mencionando, além do projeto no Chile, a estação de monitoramento espacial chinesa localizada na Argentina. “A China está expandindo sua presença na América Latina, na África e no mundo, enquanto os Estados Unidos recuam. Isso representa uma ameaça à nossa segurança”, alertou.
Diante da pressão internacional, o governo chileno decidiu suspender temporariamente o projeto chinês para reavaliação. Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores do Chile afirmou que “a extensão e os objetivos do projeto ainda precisam ser esclarecidos”.
A China nega qualquer uso militar da instalação e classificou as acusações norte-americanas como infundadas. “O observatório tem a mesma finalidade científica de outros já instalados no norte do Chile, como o Observatório Rubin, financiado pelos Estados Unidos”, disse o embaixador Niu. Ele também defendeu a aprovação imediata do projeto e criticou o que chamou de “interferência externa” no processo de decisão do governo chileno.
A porta-voz do governo do Chile, Aisén Etcheverry, declarou que as autoridades estão em diálogo com a Universidade Católica do Norte e com o Observatório Astronômico Nacional da China para avaliar se o projeto está em conformidade com a legislação e os protocolos institucionais do país.
O deserto do Atacama, um dos lugares mais secos e altos do mundo, é conhecido como um dos melhores locais para observação astronômica, abrigando diversos observatórios internacionais de ponta.
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