(FOLHAPRESS) – Greg Peters, CEO da Netflix, afirmou nesta terça-feira (28) que a contribuição da empresa ao ecossistema se dá no conteúdo, o que leva assinantes às empresas de telecomunicações.
A mensagem vem em meio à queda de braço criada entre os setores de tecnologia e as operadoras, que querem uma “partilha justa” dos investimentos em infraestrutura da rede. As teles afirmam que mais da metade do tráfego da internet vem das cinco maiores empresas de tec, entre elas a Netflix.
A resposta veio no mesmo palco do MWC (Mobile World Congress), principal evento do setor de telecom no mundo, onde nesta segunda-feira (27) representantes das operadoras defenderam a divisão dos custos. O congresso acontece nesta semana em Barcelona.
Segundo Peters, o trabalho da Netflix só é possível graças a um ecossistema de parcerias com diferentes setores: criadores de conteúdo, plataformas de tecnologia e as empresas de telecomunicação.
O executivo argumenta que o aumento de tráfego nos últimos anos não causou uma alta de custo para as empresas de internet, graças a uma melhora na eficiência nos sistemas. Ele diz que, pelo contrário, trouxe clientes.
“Claro que esse ótimo conteúdo requer investimento. Da nossa parte, foram mais de US$ 60 bilhões (R$ 314 bilhões) nos últimos cinco anos. É mais da metade da nossa receita nesse tempo. Fizemos nossa parte”, afirmou. “Somos parceiros comerciais de mais de 160 empresas do setor, muitas que oferecem Netflix como parte de suas assinaturas. Os clientes amam essas ofertas e isso mostra o valor que podemos ter por meio de colaboração.”
Peters citou investimentos da Netflix em redes de distribuição de conteúdo, que salva os vídeos transmitidos em localidades espalhadas, para que fiquem mais próximas dos consumidores. Isso reduz a demanda de tráfego (a informação não precisa viajar muito) e melhora a qualidade para o consumidor. “Gastamos mais de US$ 1 bilhão (R$ 5,2 bilhões).”
Ele também criticou a ideia de criar um imposto para as produtoras. O valor arrecadado iria para infraestrutura de telefonia. Segundo Peters, mesmo que fosse direcionado a empresas como a Netflix, poderia impactar outras companhias do setor.
“Além disso, podemos argumentar que nossas margens de lucro são muito menores do que a de operadoras como a BT e a Deutsche Telekom, então elas que deveriam nos pagar pelo nosso conteúdo que traz clientes”, disse. “Mas não faremos isso.”
DISCUSSÃO
Na abertura do MWC, representantes do setor de telefonia citaram as transformações tecnológicas esperadas para os próximos anos, como metaverso e crescimento de inteligência artificial, e a expectativa de um crescimento exponencial da demanda de tráfego de dados.
“A computação de nuvem mudou o patamar, mas não vai ser o suficiente com todo o tráfego que a Web 3.0 deve gerar”, disse José Maria Álvarez-Pallete, CEO da Telefonica e conselheiro da GSMA, entidade que congrega as teles e organiza o MWC. “É hora de colaboração entre empresas de tecnologia, big techs e indústria”, complementou.
A disputa ocorre em meio a discussões na União Europeia para que as grandes empresas de tecnologia ajudem a bancar os custos com infraestrutura de telefonia, a chamada “partilha justa”.
Na quinta (23), a Comissão Europeia, braço executivo do bloco, abriu uma consulta pública sobre o tema da “partilha justa”, aberta até o dia 19 de maio.
Para Thierry Breton, encarregado de mercado interno da União Europeia, o desafio para a conectividade do futuro é que a rede de telefonia atual não comporta as tecnologias que virão. “Ainda vemos atrasos que não permitem carros conectados, ou gerar uma visita 3D”, afirmou no palco principal do MWC.
Ele citou a pandemia, dizendo que a internet ficou à beira do colapso. “Na ocasião, liguei para os CEOs das principais plataformas de streaming e pedi para reduzirem a qualidade das transmissões. Fui atendido e o efeito [de alívio] foi imediato”.
Breton citou a consulta pública como “parte do quebra-cabeças” para esses modelos de investimentos do futuro.
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