BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Konstantin Rudnev, condenado a 11 anos de prisão na Rússia por liderar uma seita que promoveria estupros e tráfico de pessoas, foi detido na Argentina depois de meses sem pistas sobre seu paradeiro. O russo tinha passagens compradas para o Brasil.

 

A Polícia Aeroportuária argentina deteve, ao longo da semana passada, 15 pessoas no âmbito de uma investigação nacional sobre tráfico de pessoas que tinha Rudnev como protagonista.

Ele foi preso na sexta (28) junto a oito mulheres no Aeroporto de Bariloche. Elas estavam com aparente má nutrição, o que chamou atenção dos agentes de segurança. Ao ser abordado, Rudnev teria tentado cortar o pescoço com uma lâmina de barbear, mas foi impedido. Com ele foi encontrada cocaína. A polícia ainda apreendeu quase US$ 15 mil (R$ 85,5 mil), 12 celulares e vários documentos.

Ao mesmo tempo, mas na capital argentina, Buenos Aires, foram detidas outras seis pessoas com suspeita de envolvimento na rede de tráfico. Quatro são cidadãos russos (três homens e uma mulher); as outras duas mulheres são do Brasil e do México. Ainda não se sabe se elas eram possíveis vítimas ou operadoras do esquema.

Responsável pelo caso, o promotor de Justiça Fernando Arrigó disse à reportagem que a acusação só será formalizada nesta quinta-feira (3). Ainda assim, um conjunto de informações sobre o grupo que estava prestes a embarcar para o Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, já permite entender a passagem da seita pela Argentina.

A polícia argentina deu início às investigações quando uma mulher russa grávida chegou ao Hospital Regional de Bariloche para dar à luz. A equipe médica notou que ela estava recebendo ordens de outras mulheres da mesma nacionalidade, desconfiou do comportamento e comunicou à Justiça, que passou a acompanhar o caso.

O chamado “turismo de parto” de mulheres russas rumo à América do Sul tem se tornado frequente nos últimos anos. O objetivo é que os bebês ganhem a cidadania de países como Brasil e Argentina, onde há uma investigação em curso para apurar grupos mafiosos que potencialmente lucrariam com isso.

Foi a partir desse episódio, não tão incomum, que as forças de segurança argentinas chegaram à seita Ashram Shambala.

O grupo russo foi criado por Rudnev na cidade de Novosibirsk, na Sibéria, no final dos anos 1980. Em 2010, a seita foi declarada banida pela Justiça russa por suas atividades serem consideradas, segundo o tribunal responsável, “conectadas com a violência, o incentivo à desordem, a destruição da família e da moralidade”.

Três anos depois, o próprio Rudnev foi condenado a 11 anos de prisão em uma cadeia de segurança máxima na Sibéria por estupro, tráfico de drogas, agressão sexual e a criação de uma organização que viola os direitos civis. Na ocasião, Rudnev negou todas as acusações e disse que pregava um estilo de vida saudável. Ele era conhecido como uma espécie de “grande xamã” e chegou a ter de 10 mil a 20 mil seguidores.

Com idades entre 17 e 30 anos, eles seriam persuadidos a vender seus bens e entregar o dinheiro a Rudnev, romper laços com suas famílias e a participar de orgias sexuais sob influência de drogas. Quem saísse do plano seria punido com privação de comida e sono.

Rudnev prometia “limpar os canais de energia” dos seguidores e chegou a lançar um livro no qual pregava o rechaço ao estilo de vida convencional de trabalho, estudo e criação dos filhos.

O russo agora preso na Argentina foi detido pela primeira vez em seu país em 1999, mas escapou de um hospital psiquiátrico. Foi detido de novo em 2005, mas a acusação não conseguiu que seus ex-seguidores o denunciassem. Até que em 2010 ele foi novamente preso por portar um pacote de heroína. Rudnev deixou a prisão em 2021 e se mudou para Montenegro, país no qual também há relatos de atividades suas relacionadas à seita. Até que finalmente apareceu em terras argentinas.