Com uma sociedade cada vez mais consciente sobre a importância da alimentação para a saúde, e desenvolvendo um estilo mais saudável, não é de se surpreender que as alergias e intolerâncias alimentares venham a se desenvolver.
Gislene Marcolina de Souza, professora do curso de Nutrição da Faculdade Anhanguera, explica que as alergias e intolerâncias alimentares são condições que afetam diversas pessoas em todo o mundo, e muitas vezes, podem ser difíceis de distinguir devido à sobreposição de sintomas. “A intolerância alimentar tem reações adversas a alimentos que não são causados por toxinas e não envolvem mecanismo imunológico. Podem ser desencadeadas por mecanismo farmacológico ou até mesmo por organismos ainda pouco definidos, como algumas desordens intestinais, como síndrome do intestino irritável”.
Já a alergia alimentar, segundo a professora, é caracterizada por reações imunológicas que podem ser mediadas pelos anticorpos imunoglobulinas (IgE), não mediadas por (IgE) ou mistas. “As reações mediadas por IgE têm início imediato, ou seja, ocorrem até no máximo 2 horas após o contato com o alimento. Já as reações não mediadas por IgE são tardias”.
A nutricionista alerta que a intolerância alimentar mais comum é a lactose. Já a alergia alimentar pode ser desencadeada por qualquer proteína alimentar, mas oito alimentos se destacam como os alérgenos mais comuns, são eles: leite de vaca, ovo, trigo, soja, amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar.
“Em adultos, frutos do mar, castanhas, amendoim, frutas e vegetais são os principais desencadeadores. O gergelim também vem ganhando destaque como um alérgeno frequente. Entre as crianças, leite de vaca, ovo, soja e trigo são os mais corriqueiros, sendo que muitas delas desenvolvem tolerância por volta dos 3 a 4 anos. No entanto, alergias ao amendoim e frutos do mar estão ligadas a riscos graves em adultos”, acrescenta.
Gislene ressalta que tanto alergias quanto intolerâncias alimentares podem se desenvolver em qualquer momento da vida. “Reações alérgicas graves podem ocorrer em qualquer idade, inclusive na primeira exposição em pessoas mais suscetíveis. Por outro lado, as intolerâncias alimentares podem estar presentes desde o nascimento ou se desenvolverem ao longo do tempo, muitas vezes como resultado de danos à mucosa intestinal causados por toxinas alimentares, algumas pessoas nascem sem a capacidade de produzir enzimas, como a lactase, que quebram a lactose do leite, levando à intolerância. Além disso, a incapacidade de produção de enzimas pode ocorrer em qualquer fase da vida, como resultado de uma infecção intestinal, por exemplo”.
“Importante destacar que, as reações alérgicas graves, como anafilaxia, são letais e podem envolver comprometimento respiratório, hipotensão e falência de órgãos, pesquisas recentes apontam um aumento de prevalência de 2% na população nas últimas décadas, principalmente em crianças. Prevenir essas reações envolve o despejo do alérgeno e o uso de adrenalina como tratamento eficaz. No entanto, os fatores de risco não são totalmente conhecidos, e o diagnóstico nem sempre é preciso”, alerta a nutricionista.
Para o tratamento, a professora aponta que o da alergia alimentar envolve ainda principalmente a exclusão total do alimento em questão e o uso de medicação em caso de ingestão acidental. “Para lidar com restrições dietéticas devido a alergias e intolerâncias alimentares, é importante optar por alimentos naturais e minimamente processados sempre que possível. Isso ampliará a lista de alimentos permitidos em comparação aos proibidos. Além disso, é crucial ler atentamente os rótulos alimentares para evitar possíveis alérgenos ocultos”.
Existem muitos mitos ainda sobre alergias e intolerâncias alimentares, sendo importante desmitificar. “Um mito comum é a ideia de que oferecer todos os alimentos para um bebê reduzirá o risco de alergias. A recomendação da Organização Mundial da Saúde é o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses, seguido da introdução de alimentos variados. Além disso, é importante notar que tanto alergias quanto intolerâncias alimentares podem causar sintomas semelhantes, como distensão abdominal, flatulência e diarreia. Portanto, um diagnóstico adequado é essencial”, orienta Souza.
E a doença celíaca, é uma alergia alimentar?
Gislene explica que embora a doença celíaca esteja relacionada ao glúten, não é uma alergia alimentar, mas uma enfermidade autoimune. “Indivíduos celíacos devem evitar completamente o glúten. Além disso, a alergia ao trigo é uma condição menos comum, porém ainda importante a ser considerada. Intolerâncias alimentares ao glúten também podem ocorrer e são diferentes da doença celíaca”.
“Quadros de reações adversas após o consumo de alimentos contendo glúten que não apresentam cunho alérgico ou autoimune, podem ser classificados como intolerância. Apesar de os sintomas serem parecidos ao da doença celíaca, mas menos graves, em casos de intolerância ao glúten, aparentemente, os inibidores de alfaamilase e tripsina (ATI), presentes nos cereais ligados ao glúten, relacionam-se a uma resposta inflamatória intestinal mediada pela ativação do TLR-4 e células da imunidade inata, como macrófagos e células dendríticas”, destaca.
“As alergias e intolerâncias alimentares são condições complexas e podem afetar a vida de muitas pessoas. É fundamental buscar orientação médica adequada para um diagnóstico preciso e seguir medidas preventivas para evitar reações graves. A educação sobre essas condições é crucial para esclarecer mitos comuns e garantir uma melhor qualidade de vida para aqueles que convivem com esses diagnósticos,” finaliza a professora de Nutrição da Faculdade Anhanguera.