SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, voltou a minimizar nesta quarta-feira (12) a força dos protestos que vêm sendo realizados no país há quase um mês. O aiatolá os descreveu como “tumultos dispersos”, informou a agência de notícias Tasnim.
“Esses tumultos são o projeto desajeitado do inimigo contra os grandes e inovadores desenvolvimentos da nação iraniana”, afirmou ele, em meio a mobilizações que carregam fotos suas com a alcunha de ditador e questionam o establishment do regime teocrático.
A mobilização capitaneada por mulheres teve início após a morte da jovem curda Mahsa Amini, de 22 anos, no último dia 16. Durante visita com a família a Teerã, ela foi detida pela polícia por supostamente não usar corretamente o hijab, o véu islâmico obrigatório no país.
Amini foi levada ao hospital pouco após chegar na delegacia. O regime alega que sua morte se deu em função de problemas cardíacos, versão contestada pela família e por ativistas, para quem ela sofreu agressões.
A repressão posta em prática pelo regime a manifestantes tem sido condenada pela comunidade internacional. Segundo a ONG Direitos Humanos do Irã, com sede em Oslo, na Noruega, ao menos 201 civis morreram nos protestos, incluindo 23 menores de 18 anos.
A organização chama a atenção para o cenário na província do Curdistão, terra natal de Mahsa Amini onde já há histórico de discriminação contra os locais, e diz que a conexão à internet no local foi parcialmente cortada para tentar asfixiar os protestos.
Em outras áreas do país, alguns manifestantes distribuíram panfletos com a frase “seja a voz de Sanandaj”, em referência à cidade que é capital da província na porção oeste do país e onde forças de segurança do regime têm sido acusadas de atacar a população civil.
A ONG Anistia Internacional disse estar alarmada com relatos que colheu sobre agentes de segurança usando armas de fogo e gás lacrimogêneo de maneira indiscriminada, inclusive nas casas de residentes de Sanandaj.
“Para esconder seus crimes, as autoridades do Irã continuam cortando a internet e as redes de telefonia móvel”, disse em um tuíte. “Os países devem imediatamente aumentar seu nível de pressão com os embaixadores iranianos e exigir que terminem imediatamente com a repressão e respeitem o direito à liberdade de protesto pacífico.”
O movimento que questiona o regime teocrático que vigora no país já é considerado o maior desde mobilizações em 2019 ligadas ao preço da gasolina e um dos mais importantes desde a Revolução de 1979.
Nas últimas semanas, foi ainda impulsionado pela participação de jovens estudantes escolares e universitárias. “Mulher, vida e liberdade” e “morte ao ditador” são algumas das palavras de ordem bradadas nas ruas durante os atos que contam com mulheres na linha de frente.
Ainda segundo a ONG Direitos Humanos do Irã, uma das adolescentes mortas pela repressão seria Sarina Esmailzadeh, 16, da cidade de Karaj. Em 22 de setembro, ela teria ido a um ato junto com amigos após saírem da aula de inglês. Forças de segurança, então, teriam batido repetidamente em sua cabeça, até que ela faleceu.
A versão oficial, inclusive televisionada pelos canais oficiais, no entanto, afirma que Sarina se suicidou. Segundo a ONG baseada em Oslo, a família foi forçada a corroborar com o discurso.
Nesta semana, setores da economia se uniram à mobilização. Na segunda (10), trabalhadores de três importantes refinarias de petróleo entraram em greve. Alguns chegaram a bloquear estradas e a gritar frases como “morte ao ditador”. Onze foram presos na terça (11), mas as paralisações continuam, segundo relatos da mídia local.
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