SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “O setor privado sozinho não vai resolver os desafios climáticos”, afirma Eric Pedersen, diretor de investimentos responsáveis do Nordea Asset Management, fundo dos países escandinavos – Dinamarca, Finlândia, Noruega e Suécia.
“Os governos, no mínimo, devem fornecer uma estrutura regulatória para encorajar práticas corporativas sustentáveis”, ele pontua.
Em entrevista à reportagem, Pedersen rebateu as afirmações feitas pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão, que se pronunciou nesta quarta (27) durante o Fórum Econômico Mundial.
“É crucial que o setor privado tome a dianteira no financiamento de pesquisas e programas científicos para a região. Governos, especialmente no cenário de economia pós-pandêmica, não terão superávits disponíveis para direcionar grandes quantias para este tipo de atividades”, disse o vice-presidente no painel “Financiando a transição da Amazônia para uma bioeconomia sustentável”.
Segundo Pedersen, somente a aplicação robusta e consequente de políticas sociais e ambientais “garantirão acesso eficiente e sustentável aos mercados financeiros no longo prazo”.
“Políticas de combate ao desmatamento e proteção aos direitos humanos, com consequências reais para os atores econômicos que não as cumprem, são fundamentais para o gerenciamento dos riscos financeiros enfrentados pelos investidores que agem de boa fé”, conclui o diretor do Nordea.
O fundo dos países escandinavos está presente em 19 países e administrou em 2019 o total de € 554,8 bilhões (R$ 2,9 trilhões).
Desde que o governo Bolsonaro passou a flexibilizar as políticas de controle ambiental, ainda em 2019, o fundo deixou de adquirir títulos da dívida soberana do país e mantém em quarentena os ativos adquiridos anteriormente.
No entanto, após mais de seis meses de diálogo direto com Mourão sem resultados práticos no controle do desmatamento, os investidores passaram a expressar cansaço e descrença.
“Se esse é um diálogo que pode seguir eternamente sem haver consequência, ele se torna vazio”, afirma Pedersen. “Nós não vamos seguir assim indefinidamente se não vermos nenhum progresso”.
Em 2020, o desmatamento na Amazônia subiu 9,5% em relação ao ano anterior, quando já havia batido um recorde, tendo disparado em 34% na transição dos governos Temer e Bolsonaro. Ao longo do último ano, nenhuma nova multa ambiental foi cobrada pelo governo federal.
Além do fundo Nordea, outros 34 fundos de investimento, representando mais de US$4,6 trilhões (R$ 24,8 trilhões) têm cobrado conjuntamente o governo brasileiro pelos resultados ambientais, sob coordenação do Storebrand Asset Management. A iniciativa deve buscar diálogo com outros países com desafios no controle do desmatamento, como a Indonésia.
Os investidores citam a proximidade do ponto de não-retorno no desmatamento na Amazônia, alertado por cientistas, e frisam que a preocupação é com o risco financeiro. “Se a gestão dos recursos naturais é tal que talvez em 20, 30 anos tudo vai virar pó, isso pode ameaçar a capacidade de um país pagar a dívida”, afirma Pedersen.
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