WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Foram menos de dois anos entre a ascensão de Sam Bankman-Fried como jovem multibilionário filantropo dono de um império de criptomoedas e sua prisão nas Bahamas na noite de segunda-feira (12).
Fundador da FTX, plataforma de criptomoedas que faliu no mês passado sumindo com mais de US$ 1 bilhão de seus clientes, segundo a Reuters, Bankman-Fried foi indiciado nesta terça (13) por fraude e violação das regras de financiamento de campanha nos EUA. Ele enfrenta acusações da justiça federal americana e da SEC, comissão de valores mobiliários dos EUA.
SBF, como é conhecido, construiu sua persona pública em cima da filantropia e do que chama de “altruísmo efetivo”, definido por ele em entrevista recente à BBC como a busca por “que coisas práticas você pode fazer com sua vida para ter o máximo possível de impacto positivo no mundo.”
Dizia que sua meta era doar 99% de sua fortuna, avaliada em US$ 26 bilhões no primeiro semestre deste ano. Foi o segundo maior doador individual da campanha do Partido Democrata nas midterms, as eleições legislativas dos EUA que ocorreram em novembro, atrás apenas de George Soros.
Suas contribuições que somaram quase US$ 40 milhões –antes das ações judiciais ele chegou a dizer em entrevista que sua meta era chegar a US$ 1 bilhão em doações a campanhas eleitorais. A FTX entrou com pedido de falência em 11 de novembro, três dias depois das eleições americanas. Nos últimos anos, também financiou veículos de comunicação e doou para causas sociais, além de ter socorrido da falência empresas menores de cripto.
Com aura de bilionário excêntrico, cabelos vultuosos e ar desleixado, compartilhava no Twitter seu dia a dia dormindo em poufs e sofás na sede da FTX, nas Bahamas, além de comentários sobre partidas do jogo online League of Legends, pelo qual diz ser obcecado. Também participava de eventos vestindo camiseta e bermuda, inclusive com autoridades, como um evento em abril em que subiu a um palco nas Bahamas com o ex-presidente americano Bill Clinton e o ex-premiê inglês Tony Blair.
Filho de professores da Faculdade de Direito da Universidade de Stanford, em São Francisco, uma das mais prestigiadas do mundo, SBF estudou matemática e física no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e começou a carreira na corretora nova-iorquina Jane Street antes de se enveredar em 2017 pelo mundo das criptomoedas.
Foi em 2018 que fundou a FTX, corretora que surfou o período de alta das moedas digitais e se tornou uma das maiores plataformas de criptomoedas do mundo. A empresa lhe fez ficar bilionário oficialmente no ano passado, e, segundo a Forbes, só Mark Zuckerberg acumulou tanta riqueza em tão pouco tempo. A partir daí passou a circular entre celebridades e rodas da alta política americana, e estampou dezenas de capas de revista.
Mas, segundo a SEC, comissão de valores mobiliários dos EUA, era um “castelo de cartas baseado em fraudes” que começou a desmoronar “enquanto ele gastava generosamente em escritórios e condomínios nas Bahamas e investia bilhões de dólares de clientes em fundos de investimentos especulativos”, diz documento da agência reguladora desta terça.
De acordo com o órgão, Bankman-Fried fraudou mais de US$ 1,8 bilhão de clientes da FTX desde 2019 em um “esquema descarado” no qual desviava dinheiro para sua outra empresa, a companhia de fundos hedge baseada em cripto Alameda. Os clientes da Alameda também foram enganados por balanços fraudulentos, segundo a acusação.
As investigações avançaram depois que a FTX anunciou a falência no começo de novembro, após um portal especializado, CoinDesk, apontar as coincidências nos balanços da corretora e da Alameda. Após da reportagem, traders começaram a retirar seus recursos da FTX em massa, crise que piorou quando a Binance, maior corretora do mundo, retirou uma oferta para adquirir a empresa de Bankman-Fried. Isso derrubou o valor da empresa, até então tida como a terceira maior do mundo no setor, e pediu falência em 11 de novembro.
SBF deveria ter comparecido ao Congresso dos EUA para depor nesta terça, conforme definido antes de sua prisão. John Ray, que assumiu como CEO da companhia após a renúncia do fundador, admitiu aos parlamentares que não havia distinção entre as operações da FTX e da Alameda, e chamou de “total falha de manutenção de registros” com “absolutamente nenhum controle interno.”
Ele afirmou também que não acredita que os balanços financeiros da empresa são confiáveis. “Perdemos US$ 8 bilhões de dinheiro de clientes. Não confio em um único pedaço de papel nesta organização”, disse.
A defesa de SBF ainda não se manifestou, mas, em entrevistas após a falência da FTX, o americano pediu desculpas e afirmou que não misturou o dinheiro das duas companhias de maneira consciente.
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