Durante a pandemia, Ester Carro, 27 anos, arquiteta, reuniu um grupo de mulheres para aprenderem a reformar suas próprias casas em Paraisópolis, São Paulo. Neste depoimento, ela conta como foi resgatar a importância de viver em comunidade.
“Nasci em Paraisópolis, uma das maiores favelas de São Paulo, e durante toda a minha infância vi as pessoas colaborando umas com as outras, repartindo um bolo, fazendo mutirão de limpeza ou ajudando a recuperar a casa de um vizinho que passou por uma enchente.
A vida em comunidade era a única forma de sobreviver, já que não podíamos contar com o poder público. Durante a pandemia, o resgate dessa vivência coletiva veio à tona. Diversas mulheres que viviam aqui no Jardim Colombo, parte do Complexo de Paraisópolis, trabalhavam como empregadas domésticas e, com a disseminação da covid-19, se viram sem trabalho, em casas muitas vezes precárias pela falta de recursos e de saneamento.
Perguntei então ao meu pai, que atua na construção civil, se ele toparia compartilhar com esse grupo de mulheres alguns conhecimentos sobre impermeabilização, revestimentos e pintura. Elaboramos uma aula teórica e, em seguida, íamos à casa de cada uma delas colocar em prática os conhecimentos adquiridos. Ao total, foram quatro casas e mais de quarenta ambientes reformados, incluindo espaços comuns do bairro.
Mutirão virou profissão
O que antes era apenas um mutirão acabou virando profissão para algumas delas, que passaram a viver da construção civil. Pelo menos 83 mulheres já fizeram a formação. O mais legal é que, depois dos encontros, a nossa relação continua. Discutimos juntas os problemas da comunidade e propomos soluções coletivas para lidar com eles.
A transformação só acontece quando cada um de nós se torna um agente, quando passamos a ser a mudança que queremos ver no mundo. Quando trabalhamos de forma conjunta, os resultados são maiores, mais rápidos e duradouros.”
Texto: Gabriela Portilho
Foto: Bruno Conrado
Conteúdo publicado originalmente na TODOS #44, em julho de 2022.
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