(FOLHAPRESS) – A mortalidade feminina por doenças cardíacas precisa ser reduzida em um terço até 2030 no Brasil, segundo entidade médica.
Para isso, medidas de prevenção de fatores de risco, bem como campanhas de conscientização para o público leigo e treinamento de profissionais de saúde, especialmente de atenção primária, devem ser implementadas com urgência.
Essas são as principais conclusões de um posicionamento publicado pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) sobre a saúde cardiovascular nas mulheres.
As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em homens e mulheres por enfermidade no Brasil, segundo dados do DataSUS. No caso das mulheres, as doenças cardíacas possuem maior mortalidade do que todos os tipos de câncer.
Entre os principais tipos de doenças cardiovasculares nas mulheres estão a doença isquêmica do coração (infarto) e o acidente vascular cerebral (AVC), cuja mortalidade é maior em mulheres do que em homens.
Apesar de a prevalência de doenças cardíacas ter aumentado nos últimos anos tanto em homens quanto mulheres, até 2011 ela era maior nas mulheres do que nos homens. Porém, nos últimos anos, aumentou o número de infartos em mulheres jovens, de 35 a 54 anos, com crescimento de fatores de risco também nessa população, como obesidade, hipertensão e diabetes.
Ainda de acordo com a SBC, há fatores específicos do sexo feminino, como a menopausa e as doenças relacionadas à gestação, especialmente da gravidez na adolescência, com aumento dos riscos de complicações maternas e do bebê.
Segundo Celi Santos Marques, uma das organizadoras do texto e membro do Departamento de Cardiologia da Mulher da sociedade, os riscos de morte nas mulheres são mais elevados do que nos homens quando apresentam doença cardiovascular.
“A mulher não deve adoecer. Se ela adoece, a literatura científica nos diz que ela vai ter uma doença com maior risco de morbimortalidade [agravamento das condições com risco à morte], por isso é preciso tratar e prevenir os fatores de risco”, diz.
Além disso, um fator adicional que foi incluído nesta edição do guia diz respeito à síndrome do burnout (esgotamento), que teve maior incidência nas mulheres durante a pandemia do que nos homens.
De acordo com a nota, as mulheres se sentem mais sobrecarregadas com a jornada dupla de trabalho, o que contribui para as altas taxas de burnout nesta população. Uma das medidas para prevenção seria melhorar a assistência à saúde mental das mulheres, com a identificação dos sintomas de ansiedade e depressão, que podem melhorar a qualidade de vida e diminuir os riscos de doenças cardiovasculares.
Fatores hormonais, como a maior presença nas mulheres da chamada síndrome de Takotsubo, causada pela deficiência de estrogênio e que pode levar a infartos pós-menopausa, também geram uma maior preocupação de doenças cardíacas nesta faixa etária, embora não haja evidências que a reposição hormonal tenha impacto na redução desse risco.
O diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, o excesso de sobrepeso e a maior taxa de hipertensão nas mulheres, especialmente nas mulheres negras e mais vulneráveis socialmente, mostra ainda a desigualdade social da doença cardíaca no Brasil.
No novo documento apresentado pela SBC, os especialistas recomendam como principal forma de prevenção melhorar a atenção primária à saúde, com orientação para os agentes comunitários de saúde para abordar os aspectos da saúde da mulher que podem levar ao risco elevado de doença cardiovascular, como pré-natal, controle de colesterol, obesidade e diabetes e hipertensão.
Regina Coeli Marques de Carvalho, cardiologista membro, a saúde da mulher deve ser entendida na singularidade do sexo feminino. “É preciso levar em consideração os fatores que são de qualidade de vida, sobrecarga e de psicologia da mulher para diminuir o risco de doença cardiovascular”, disse.
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