(FOLHAPRESS) – Pessoas que visualizam conteúdo relacionado ao tabaco nas redes sociais são cerca de duas vezes mais propensas ao consumo de produtos com a substância do que aquelas não expostas a esse tipo de postagem, de acordo com pesquisa publicada na revista científica JAMA Pediatrics.
O estudo consiste em uma revisão de 29 pesquisas relacionadas ao uso de cigarro, cigarro eletrônico, charuto, narguilé e tabaco sem fumaça, englobando 100.666 adolescentes (menores de 18 anos), 20.710 jovens adultos (de 18 a 25 anos) e 18.248 adultos (acima de 25 anos) dos Estados Unidos, Índia, Austrália e Indonésia.
Os pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia e da American Cancer Society analisaram tanto postagens de usuários sobre tabaco quanto conteúdo patrocinados por empresas do setores.
A conclusão é que quem vê esse tipo de material tem mais chance de fumar ao longo da vida, assim como de ter consumido tabaco nos últimos 30 dias. Além disso, pessoas que nunca experimentaram cigarro e viram as postagens ficaram mais propensas a usarem pela primeira vez.
“Pessoas que nunca consumiram tabaco, especialmente adolescentes e jovens adultos, são mais suscetíveis a consumir no futuro se forem expostos a conteúdo sobre tabaco nas mídias sociais. Essa é uma ameaça à saúde pública e são necessários esforços de prevenção imediatos para reduzir a exposição”, avalia Scott Donaldson, principal autor do artigo.
No Brasil, a idade média de quem experimenta tabaco entre os jovens é de 16 anos, segundo o Observatório da Política Nacional de Controle do Tabaco.
“A publicidade tradicional, com atores de Hollywood, já tinha um enorme impacto nesse público. Imagine agora com influencers e modelos, com o cigarro sendo colocado como um gadget”, diz o pneumologista Paulo César Corrêa, coordenador da Comissão de Tabagismo da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia) e professor na Ufop (Universidade Federal de Ouro Preto).
A lei brasileira veta a publicidade de produtos fumígenos em qualquer meio de comunicação, mas é possível encontrar na internet páginas nas quais usuários fazem reviews desse tipo de material, incluindo de cigarros tradicionais também estão disponíveis.
“Enquanto os anúncios eram feitos na mídia tradicional, era possível exercer um controle maior. Nos meios digitais, por mais que haja o esforço das autoridades, o controle é difícil”, afirma Denise Fabretti, professora de ética e legislação na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
Nesse sentido, os pesquisadores defendem novas medidas. “É possível criar mais proteções usando software de aprendizado de máquina para sinalizar postagens e vídeos. Os órgãos reguladores podem considerar estratégias como alfabetização em mídias sociais, abordando a prevenção ao tabaco nas escolas, e oferecer programas para educar os pais sobre os perigos das mídias sociais em relação ao uso do tabaco”, exemplifica Donaldson.
Corrêa concorda e recomenda aos pais inserirem conversas sobre drogas no dia a dia. “As melhores pessoas para a entrega de mensagens de prevenção são os pais. Eles falam, o adolescente sai pisando duro, batendo a porta, mas escuta”, diz.
O YouTube informa que sua política não permite a publicação de conteúdo destinado à venda direta ou indireta de nicotina, incluindo cigarros eletrônicos, e aconselha a denúncia de conteúdos que desrespeitem suas diretrizes.
A Meta, responsável pelo Facebook e pelo Instagram, proíbe em suas políticas que indivíduos, fabricantes e varejistas tentem comprar, vender ou negociar drogas não medicinais, porém há exceções, como no caso de conteúdo referente a álcool ou tabaco que será consumido em um evento, bar ou festa. Também pontua que restringe a visualização de conteúdo sobre tabaco a maiores de 18 anos.
As principais fabricantes de tabaco afirmaram que seguem a legislação brasileira, e que, portanto, não fazem publicidade no país.
A JTI (Japan Tobacco International) informou que não promove ações de marketing voltadas para o consumidor final. Segundo a empresa, os materiais são direcionados apenas a parceiros comerciais, vendedores e distribuidores e, para tanto, a companhia “não faz uso de internet, campanhas em redes sociais e tampouco realiza parceria com influenciadores digitais para divulgar suas marcas de cigarro”.
A Philip Morris Brasil afirmou que “observa integralmente a Lei 9294/1996 e suas alterações posteriores, que proíbem a propaganda comercial de cigarros no Brasil, excetuada sua exposição em pontos de venda. Portanto, a indústria legalizada do tabaco não é autorizada a fazer parcerias com influenciadores e a PMB cumpre rigorosamente essa norma”.
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