(FOLHAPRESS) – Com a diminuição das restrições sanitárias e o avanço da vacinação, os voos para a Europa voltaram a ficar lotados. Os brasileiros estão animados com a proximidade do verão e existe uma sensação de fim do castigo da abstinência das viagens internacionais imposta pela pandemia.
Nem chegou a alta temporada e os números já refletem a tendência.
Em abril, a média de partidas para o exterior foi de 87 voos por dia, sete vezes mais do que o registrado no mesmo período do ano passado, segundo a Anac (Associação Nacional de Aviação Civil). Em maio, as reservas para o exterior alcançaram o maior número desde janeiro de 2020, de acordo com os registros da CVC Corp.
Mesmo durante a insegurança causada pelo vírus, em 2021, a Europa foi o segundo destino mais procurado pelos turistas, perdendo apenas para a América Central e Caribe -locais que sempre tiveram barreiras sanitárias menores que as dos países europeus.
A Europa também foi o segundo maior tíquete médio, R$ 7.543, correspondendo a 23,8% do faturamento internacional em 2021. O velho continente continua a encantar.
Depois de dois anos de pandemia, a dentista Carla Nardi festejou quando conseguiu finalmente embarcar para a Itália no início de junho. “Durante dois anos fiquei presa aos roteiros nacionais”, explica ela, que organizou tudo sozinha, sem ajuda de uma agência de viagens.
“Não tive qualquer dificuldade, mas achei os preços bem mais altos do que antes da pandemia”, avalia.
A observação de Nardi não é um caso isolado -filas, reclamações e terminais lotados foram uma constante nos principais aeroportos de Londres neste mês, e problemas de outras naturezas também ajudam a tumultuar o turismo europeu, como por exemplo o plano de contingência para a imigração em Lisboa.
Junto do marido, Carla Nardi foi para Roma, onde alugaram um carro para descer rumo à Costa Amalfitana, no sul do país -um roteiro que já fizeram algumas vezes.
A alta dos preços é real. Só no primeiro trimestre deste ano, de acordo com a Anac, o valor do querosene usado nas aeronaves subiu 82,7%, quando comparado com o mesmo período de 2019.
Esse é o item de maior impacto para o setor. Segundo a Abear (Associação Brasileiras das Empresas Aéreas), é equivalente a um terço da soma de todos os custos.
“Paguei R$ 8.576 de São Paulo para Paris”, diz a cirurgiã dentista Fulvia Brancaglione, que viajou no início de junho para a França. “Meu voo estava lotado, não havia possibilidade nem de upgrade da passagem.”
Para não pagar a mesma tarifa que Fúlvia, seu filho Gustavo optou por um caminho mais comprido para chegar a Paris na mesma época que a mãe. Embarcou em São Paulo para Fortaleza, e de lá para Paris. A viagem saiu por volta de R$ 6 mil.
Já a empresária brasileira Susie Lau, que mora em Chicago, nos Estados Unidos, cancelou os planos de passar férias na Europa com o marido. Todos os anos, o casal vai para Dusseldorf, na Alemanha, para visitar a família, e justamente nessa época.
“A ideia era entrar no continente por Londres, como de costume, e depois seguir para a Alemanha, porque a viagem sai menos da metade do preço do que voar direto de Chicago para Dusseldorf”, explica.
Mas esse ano, Susie achou o programa que seria “uma aventura”, devido à mais de uma centena de cancelamentos de voos da britânica EasyJet que foram realizados desde abril.
Vale lembrar que há dois meses a empresa anunciou que estava passando por grande baixa médica de funcionários contaminados pelo vírus da Covid. A companhia de tarifas de baixo custo chegou a remover seis assentos de aeronaves A319 para reduzir a tripulação.
Em maio, veio uma pane no sistema de TI e mais cancelamentos.
O problema não é exclusivo da EasyJet. Muitos aeroportos estão tentando aumentar a equipe para dar conta do renascimento da alta demanda das viagens. O setor, no entanto, está trabalhando para se readequar. A Air France, por exemplo, já anunciou que iniciará a operação de mais dois voos semanais entre São Paulo (Guarulhos) e Paris.
Desta forma, a companhia passará das atuais dez frequências para 12, mais próxima da oferta pré-pandemia na capital paulista, que era de 14 decolagens por semana.
“Esse excesso de viajantes está atrapalhando até mesmo as viagens de trem”, acredita Susie, que mora em Chicago. Antes de desistir da viagem, ela estudou a possibilidade de um voo direto para Frankfurt -que sai US$ 4 mil, o casal.
“Em seguida, cotei o trem, US$ 200. Porém, além das greves na malha férrea, também estão acontecendo cancelamentos devido ao excesso de turistas”, completa.
O voo direto de Chicago para Dusseldorf, segundo ela, sai US$ 5 mil, na alta temporada, para o casal. “Quando voamos por Londres, gastamos US$ 2 mil. Não vale a pena”, diz. “Vamos deixar para viajar em setembro.”
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