BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – Um galpão de madeira de dois m2 , sem aquecimento adequado, em um país do norte da Europa foi o local onde um homem foi mantido por 40 anos sob condições análogas à escravidão.
Nesta terça-feira (18), uma das pessoas que colocaram o homem de 58 anos nessa situação confessou o crime perante um tribunal da cidade inglesa de Carlisle, quase na fronteira com a Escócia.
Peter Swailes, 56, foi preso em outubro de 2018, depois de investigadores da Gangmasters and Labor Abuse Authority, agência britânica responsável por apurar casos de exploração trabalhista, receberem uma denúncia anônima de que um homem era mantido em condições degradantes.
Na ocasião, o pai do réu, que tem o mesmo nome, também foi preso. No local da detenção, os agentes encontraram o pequeno galpão de madeira e, depois de baterem na porta, foram recebidos pela vítima.
Segundo as autoridades, o homem disse aos oficiais que morava ali havia quatro décadas e pediu para se lavar, indicando uma pia de cozinha num prédio perto do galpão, onde provavelmente ele tomava banho.
As autoridades também notaram a existência de um outro galpão no local, utilizado para abrigar o cachorro da família, que estava em condições muito melhores do que o destinado ao homem.
Em entrevistas, a vítima afirmou que trabalhava em fazendas, com serviços de pintura, além de outros mais pesados, desde que tinha 16 anos. Ao todo, recebia 10 libras esterlinas (R$ 74), por dia –no Reino Unido, o salário mínimo estipulado por lei é de 8,81 libras (R$ 66) por hora.
Após as investigações, os suspeitos foram acusados de facilitar a viagem de alguém para explorá-lo posteriormente, o que é considerado crime na lei de escravidão aprovada em 2015 no Reino Unido.
Swailes, porém, foi liberado após pagar fiança e deve receber sua sentença no próximo dia 4 de fevereiro. Já o pai dele morreu em setembro de 2021, aos 81 anos, pouco antes de ser julgado.
Na audiência desta terça, segundo a BBC, Swailes negou ter conhecimento de como o homem era tratado, mas confessou que o pagava “menos do que seu direito mínimo”. Martin Plimmer, chefe da investigação, disse que, durante toda a carreira, nunca conheceu um caso de escravidão moderna em que “a exploração tenha ocorrido por um período tão longo”. “É bom ver que Swailes fez a coisa certa e se declarou culpado.”
A vítima, por sua vez, foi aceita no Mecanismo Nacional de Encaminhamento (NRM, na sigla em inglês) no dia em que foi resgatada e continua a receber apoio especializado. Atualmente, o homem vive fora da região onde foi encontrado, em acomodações apoiadas pelo programa do governo.
“Infelizmente, estamos muito cientes do fato de que ele ficará traumatizado por sua experiência pelo resto de sua vida. Estou comprometido em garantir que ele continue a ter o apoio regular e consistente de que precisa, o que lhe permite levar uma vida mais próxima do normal possível”, afirmou Plimmer.
Estimativa da ONU feita em 2017 apontou que cerca de 25 milhões de pessoas são vítimas de trabalho escravo em todo o mundo e outras 15 milhões vivem presas após serem obrigadas a se casar -do total, 71% são mulheres e meninas. No ano passado, as Nações Unidas celebraram o 30º aniversário do Fundo Fiduciário Voluntário sobre Formas Contemporâneas de Escravidão; só em 2021, 18 mil vítimas receberam assistência de organizações apoiadas pela iniciativa.
Além disso, de acordo com dados divulgados pelo Unicef em junho, quase 80 milhões de crianças de 5 a 17 anos são submetidas a trabalhos perigosos, classificados como forma contemporânea de escravidão.
No Brasil, só em 2020, 942 pessoas foram resgatadas de condição semelhante à de escravidão, segundo o Observatório da Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoa. Ainda de acordo com a plataforma, 55.712 pessoas já foram libertadas de situações laborais degradantes desde 1995.
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