Já faz quase seis anos que o gari José Carlos Matos, 47 anos, arrecada e distribui pães e água potável para moradores da Cracolândia, em São Paulo (SP).
A maneira como ele chama as pessoas já é bem conhecida ali. “Olha o pão, meus irmãos!”, anuncia aos gritos, pronto para distribuir o pouco que tem com os usuários de drogas da região.
Todos os dias, José sai às 5h da manhã de Embu das Artes, na Grande São Paulo, pega 4 ônibus e percorre mais de 30 km para chegar ao terminal Princesa Isabel e fazer as doações.
Para além do seu trabalho como gari, ele dedica até seis horas diárias de voluntariado até retornar para casa, por volta das 21h.
Felizmente, as doações não pararam durante a pandemia de Covid-19, nem em sua pior fase. Apesar de receberem menos abraços do que antes, os moradores da Cracolândia seguem sendo tratados com dignidade e ouvindo o famoso “olha o pão, meus irmãos” de José.
Para fazer a distribuição, ele pede às padarias os pães que sobraram. Já os galões de água são enchidos em lojas da região, e recarregados várias vezes ao longo do dia. “Já chegou dia que eu cheguei a distribuir mais de 200 litros de água para essas vidas que estão perecendo”, afirmou.
Com o galão no ombro, José frequentemente se lembra da infância, época em que tinha que buscar água com um pote na cabeça em Chapada do Norte (MG).
“A minha infância que eu passei não foi boa, passei sem pai sem mãe, eu sei o que é o sofrimento da vida. Eu tenho muita dó daqueles que eu vejo sofrendo diante de mim também”, lamentou.
Trabalho voluntário incessante
Em 2016, quando começou sua ação social, José fazia doações 2 vezes por semana. Com a intervenção da prefeitura de São Paulo e do governo estadual na Cracolândia, suas visitas passaram a ser mais frequentes.
“Eu vinha toda quinta e todo sábado, mas depois que a polícia invadiu aqui dentro do recinto deles, estou vindo todo dia”, disse ele ao portal G1. No caminho, ele distribui saudações, orações e mensagens motivacionais.
“Em vez de excluir, em vez de julgar, vamos tentar amar. Se no amor nós não conseguirmos, não vai ser no ódio que vamos conseguir”, disse.
José reconhece que sua família teme que ele seja alvo de algum malfeito na Cracolândia, mas ele persiste em sua causa. “Lógico que minha família fica com medo. Eu fico mais tempo na Cracolândia do que com eles”.
“Quanto mais eu faço o bem, mais vontade de fazer eu tenho. Isso que me dá força, isso que me dá ânimo para eu lutar pelas vidas. Essa batalha nós só vamos vencer no amor. Não é ignorância, não é violência, não resolve nada”, completou.
Fonte: Blasting
Fotos: Paula Paiva Paulo / G1
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