Cerca de dois meses atrás, o Razões contou a história da gari Ketlly Cristina da Silva, 25 anos, que concluiu o curso de Direito após superar uma série de desafios pelo caminho, como a necessidade de pedalar 10 km por dia para estudar e ser vítima de discriminação por conta de seu trabalho.
Agora, temos mais boas notícias sobre Ketlly: na última sexta-feira (24), a jovem ingressou na Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em Cuiabá (MT).
A advogada é a primeira da família a conquistar o diploma de curso superior. Ela é filha de uma diarista e tem dois irmãos (que trabalham como manicure e servente de obras).
Quando Ketlly tinha apenas 4 anos, seu pai morreu dentro de um presídio. Na adolescência, ainda marcada por essa tragédia, surgiu o desejo de estudar Direito.
Para além de conseguir justiça por meio de seu trabalho, a jovem também enxergou no bacharelado a oportunidade de confrontar o Estado onde ele é falho. Como exemplo, ela cita a mãe, que criou os filhos sozinha com a renda de faxinas, sem qualquer respaldo ou auxílio do governo.
Conquistar o diploma foi uma luta. Ketlly não tinha dinheiro para custear o transporte até a faculdade e ia de bicicleta, à noite, para estudar.
“Trabalhava e estudava. Não tinha dinheiro para transporte, então ia de bicicleta para faculdade. Não tinha dinheiro para o lanche, nem para material didático, mas ia me virando, não foi fácil”, relatou a mato-grossense que agora se prepara para o Exame da Ordem.
Seu principal objetivo na Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil é ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade, que muitas vezes não têm informação. “A informação mudou minha vida e também pode ajudar a de outras“.
A história de superação de Ketlly repercutiu em todo o país, especialmente em sua terra natal, onde ela recebeu o convite para ocupar um cargo na Procuradoria Municipal de Várzea Grande, além de outras oportunidades.
“Pessoas manifestaram o desejo de me ajudar com livros, como o Vade Mecum. Eu não tinha dinheiro para pagar a prova da OAB, e uma outra pessoa que também está estudando para a prova pagou a taxa de inscrição para mim e me ajudou com livros. Também recebi ajuda para pagar parte do financiamento da faculdade”, contou.
Saber que serve de inspiração para outras pessoas enche a jovem de orgulho. Além disso, aos poucos depois da conquista do diploma, sua vida está melhorando.
“Com todo respeito aos garis, essa profissão é muito dura, trabalhar no sol quente, como braçal, na insalubridade. Então, avalio que minha vida está melhorando”, disse.
Kettly é casada e tem um filho, o Isaque, de 10 meses. “Ele é minha grande inspiração“, afirma a mãe. O marido trabalha como repositor em um supermercado e também está animado para fazer faculdade, mas ainda não escolheu o curso.
Para Flávio Ferreira, presidente da Comissão dos Direitos Humanos da OAB, a experiência de vida dela pode colaborar muito com os serviços prestados pela OAB-MT à sociedade.
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Fonte: Mato Grosso Mais
Fotos: Arquivo pessoal
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