Salvador ganha 1ª clínica popular que usa cannabis em tratamento contra doenças crônicas

Inaugurada há pouco mais de um mês em Salvador (BA), o Espaço Sativa, primeira clínica popular que usa canabinoides em tratamentos, oferece consultas com valores acessíveis (a partir de R$ 200) para dezenas de famílias que lutam para melhorar a qualidade de vida dos filhos com enfermidades crônicas.

A clínica foi fundada pelo biomédico Guilherme Cardoso e a médica Beatriz Sampaio, conhecida nas redes sociais como ‘Doutora Sativa’.

Desde que foi aberta, já acumula uma lista de espera com cerca de 60 pessoas que buscam atendimento terapêutico baseado no uso medicinal da cannabis sativa, uma alternativa para o tratamento de doenças com quadros de difícil controle.

Além da lista de espera, outros 25 pacientes aguardam pelo atendimento gratuito que faz parte da proposta inclusiva da clínica.

O Espaço Sativa também oferece consultas online em todo o Brasil, com terapias específicas para autismo, ansiedade, epilepsia, Alzheimer, dores crônicas e depressão.

Atualmente, 90% da clientela são mães desses pacientes. Esse é o amor que vence tudo. Elas são as grandes médicas doutoras sativas que lutam pelo tratamento e inspiram o nome da nossa clínica. É recompensador ajudar uma mãe que tem uma filha, que antes sofria várias crises convulsivas por dia, conquistar mais qualidade de vida e dignidade. A sensação que tenho é de esperança”, disse a médica Beatriz Sampaio.

De acordo com o biomédico Guilherme Cardoso, a ideia da clínica nasceu quando ele ainda estava na faculdade e teve contato com o estudo dos canabinoides. Hoje, o empreendimento conta com sete médicos da área clínica, biomédica, neurologia, especialista em dor e nutrologia.

A cannabis é uma abordagem revolucionária na medicina assim como o antibiótico foi há décadas. Levamos cinco anos para organizar e estruturar o projeto que se transformou na primeira clínica particular independente com a proposta popular e única na Bahia. Nos nossos planos está a expansão do modelo para outros estados”, destacou o biomédico.

O que são canabinoides

O tratamento oferecido por Guilherme e Beatriz faz uso de substâncias presentes na cannabis sativa – o nome científico da maconha – que possui mais de 480 compostos, como Tetrahidrocanabinol (THC) e o Canabidiol (CBD).

Esses princípios ativos são muito utilizados para fins medicinais, ativando e interagindo o ‘sistema endocanabinoide’ que está presente no corpo humano.

O THC e o CBD são capazes de melhorar sintomas específicos de diversas doenças, como os espasmos típicos de quem tem esclerose múltipla ou controlar convulsões severas em pacientes com epilepsia.

De 2019 pra cá, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) regulamentou a fabricação e a venda de produtos para uso medicinal, nas farmácias, mediante prescrição médica.

Mais tarde, em abril do ano passado, a agência autorizou o primeiro produto à base de cannabis, produzido pela farmacêutica brasileira Prati-Donaduzzi.

No início deste ano, liberou mais dois produtos importados e fabricados nos Estados Unidos. De acordo com Guilherme, o preço dos produtos chega a variar de R$ 300 a R$ 2 mil, o que limita sua aquisição a uma parcela pequena da população.

“Sabemos que o custo é alto. Por essa razão, os valores aplicados por nossos médicos são menores, em comparação a outros profissionais. Porém, conseguimos tornar o negócio sustentável e seguir com a proposta de atendimento popular e isso de certa forma é uma maneira humanizada de fazer medicina”, disse.

Felizmente, a tendência é de avanço na regulamentação da cannabis em nosso país.

No início de junho, um projeto de lei (PL 399/15), que prevê o plantio da maconha para fins medicinais e a comercialização de medicamentos que contenham extratos, substratos ou partes da planta foi aprovado em uma comissão especial.

Essa nova e revolucionária legislação agora segue para o plenário da Câmara dos Deputados, onde será analisada por todos os congressistas.

Para Renato Filev, pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ainda existem barreiras que impedem o maior acesso à cannabis. “A gente tem que preparar, informar as pessoas dessas potencialidades e catalisar as pesquisas aqui no nosso país. Ou seja, organizar um debate amplo, que altere essa regulação para que o acesso a esses produtos seja, de fato, mais democrático”, completou.

Fonte: Correio 24h
Fotos: Nara Gentil

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