Uma equipe de astrônomos conseguiu captar a “música” e investigar o interior de um tipo de estrela que, até então, era considerada silenciosa demais para ser estudada, segundo um artigo publicado na última terça-feira (6) no The Astrophysical Journal.
Utilizando o observatório W. M. Keck, no Havaí (Estados Unidos), os cientistas empregaram o Keck Planet Finder (KPF), um equipamento de alta tecnologia, para detectar as sutis oscilações da estrela HD 219134.
Assim como instrumentos musicais, as estrelas vibram em frequências naturais que podem ser “ouvidas” com os instrumentos adequados. Esse campo da ciência é conhecido como asterossismologia — o estudo da estrutura interna das estrelas a partir de suas vibrações.
“As vibrações de uma estrela são como sua canção única”, explicou Yaguang Li, autor principal do estudo e pesquisador de pós-doutorado no Instituto de Astronomia da Universidade do Havaí (IfA), em comunicado divulgado pela agência Europa Press. “Ao escutar essas oscilações, conseguimos determinar com precisão a massa, o tamanho e a idade de uma estrela.”
Até hoje, esse tipo de análise era feito principalmente em estrelas mais quentes que o Sol, com ajuda de telescópios espaciais da NASA como o Kepler e o TESS. No entanto, as oscilações da HD 219134 — uma estrela mais fria e alaranjada, localizada a apenas 21 anos-luz da Terra — são tão sutis que não podem ser detectadas pelas variações de brilho captadas por esses instrumentos.
Durante quatro noites seguidas, a equipe utilizou o KPF para realizar mais de 2.000 medições ultrassensíveis da velocidade da estrela, capturando com precisão suas vibrações.
Essa foi a primeira vez que cientistas conseguiram deduzir a idade e o raio de uma estrela fria por meio da asterossismologia usando o KPF. Eles descobriram que a HD 219134 tem cerca de 10,2 bilhões de anos — mais que o dobro da idade do Sol —, um dado relevante para os estudos sobre envelhecimento estelar. Também foi constatado que seu tamanho é menor do que se pensava, de acordo com outras medições que não envolviam asterossismologia.
Segundo o estudo, a HD 219134 abriga ao menos cinco planetas, incluindo dois mundos rochosos que possivelmente têm composições semelhantes às da Terra. A nova medição mais precisa do volume da estrela permitiu aos astrônomos recalcular com mais exatidão os tamanhos e densidades desses planetas.
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