(FOLHAPRESS) – Dias após o atentado terrorista do Hamas no sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, o cardeal Pierbattista Pizzaballa propôs ser levado à Faixa de Gaza como refém em troca da libertação de crianças que foram sequestradas pela facção. Liderança católica no Oriente Médio, o italiano de 60 anos é conhecido por seus esforços em prol do diálogo inter-religioso e atualmente um dos favoritos a suceder o papa Francisco.
Pizzaballa é patriarca de Jerusalém e mantém diálogos constantes com cristãos, judeus e muçulmanos. Crítico do conflito ainda em curso entre Israel e Hamas, o cardeal ganhou projeção mundial com seus apelos pela paz na região, reiterando uma das principais frentes defendidas pelo pontífice argentino.
Seus posicionamentos relacionados à guerra já lhe renderam críticas. O cardeal foi um dos signatários de uma declaração sobre a “crescente crise humanitária em Gaza”, que condenou ataques a civis e o bloqueio à ajuda no território palestino, o que enfureceu autoridades israelenses. Acusado de ser pró-Hamas, o italiano disse depois que os atos da facção foram incompreensíveis e uma “barbárie inaceitável”.
O cardeal nasceu na região de Bérgamo, no norte da Itália. Soube que queria se dedicar à vida religiosa ainda criança, aos nove anos. No início, não pensava em atuar no Oriente Médio, e sim na China, devido ao contato que teve com missionários expulsos do país sob o regime de Mao Tse-tung (1949 – 1976).
Em 1990, já sacerdote, foi enviado a Jerusalém aos 25 anos para estudar, ainda que à época só falasse italiano e o dialeto de Bérgamo. Além do choque cultural, ele conta que encontrou a região em ebulição devido à Primeira Intifada, os levantes palestinos contra Israel ocorridos de 1987 a 1993.
“Cheguei na noite do dia 7 de outubro e, no dia seguinte, no bairro onde eu estava, houve um confronto entre militares israelenses e palestinos que resultou em 22 mortes”, disse ele, segundo o site The College of Cardinals Report, criado pelo vaticanista Edward Pentin.
“Eu não falava os idiomas e não entendia toda a violência, que para mim era muito estranha. Havia toques de recolher em todas as partes. Não foi simples, mas foi salutar, no sentido de que me forçou a encontrar as razões profundas e reais de minha vocação e da minha obediência”, continuou.
Pizzaballa foi o único cristão de sua turma que estudava as Escrituras na Universidade Hebraica e fez várias amizades com colegas judeus. Adaptou-se ao ambiente com o passar dos anos e virou custódio, sendo responsável por proteger e zelar pelos locais sagrados ao cristianismo na Terra Santa.
O cardeal se tornou grande conhecedor da região e de seus conflitos. Em 2010, ele participou do Sínodo dos Bispos sobre o Oriente Médio. Anos depois, em 2014, ajudou a organizar o encontro no Vaticano entre o papa Francisco, o então presidente israelense, Shimon Peres, e o líder palestino Mahmoud Abbas.
Para Pizzaballa, cristãos, judeus e muçulmanos “não conseguem se encontrar”. “Mesmo em nível institucional, temos dificuldade de conversar uns com os outros”, disse, ao defender mais diálogos.
Em 2023, meses antes do início da guerra entre Israel e Hamas, Francisco o nomeou cardeal. Durante o conflito, o italiano celebrou missas junto à enxuta comunidade cristã em Gaza, em uma paróquia local. Ainda coordena uma missão humanitária para enviar alimentos e remédios à população palestina.
Pizzaballa é o segundo papável com a menor idade do conclave, o que é apontado como um obstáculo na votação. E como ocupa o cargo há relativo pouco tempo, seus posicionamentos em temas espinhosos à Igreja Católica não são conhecidos a fundo, incluindo a bênção a casais do mesmo sexo e a comunhão a divorciados e casados pela segunda vez. A escolha do italiano, por outro lado, representaria um forte sinal político durante a guerra ora em curso.
“Não sei quando ou como essa guerra terminará. Toda vez que nos aproximamos do fim, parece que estamos começando do zero. Mas, cedo ou tarde, vai acabar”, disse aos fiéis na Paróquia Sagrada, em Gaza. “Reconstruiremos tudo: escolas, hospitais e casas. Nunca os abandonaremos.”
Com formação em filosofia e teologia, atualmente o cardeal fala italiano, hebraico, árabe e inglês.
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