JOANA CUNHA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A teoria sugerida por Lula em uma entrevista na quinta-feira (6), quando instou os brasileiros a evitarem comprar produtos caros nos supermercados para ajudar a sofrear a inflação, parece ter chegado com demora. Na prática, os brasileiros já começaram a recuar no consumo de alguns itens para tentar evadir da carestia.

 

O freio na demanda faz segmento de uma série de mudanças no comportamento do consumidor que tradicionalmente acontecem nos períodos inflacionários: redução da compra de itens que são protagonistas da cesta básica, moderação nos artigos considerados mimos supérfluos e até um racionamento nos produtos de higiene e limpeza.

Tais movimentos já aparecem em um levantamento realizado nos primeiros 21 dias de janeiro pela empresa de pesquisa de mercado Varejo 360, que monitora tendências de consumidores nos pontos de venda.

A média de unidades de leite UHT compradas por cliente caiu aproximadamente 4,5% no período, se comparado ao mesmo pausa de 2024. A compra do moca torrado e moído, por sua vez, recuou muro de 2,5% por consumidor, conforme a pesquisa.

Embora o preço do moca tenha subido mais do que o do leite, a proporção da queda em seu volume de compras parece menor em janeiro. Isso acontece porque a disparada no preço do cafezinho já havia começado a espantar o consumidor desde o ano pretérito, um movimento que também acontecera com o óleo meses antes.

O mesmo acontece com alguns produtos que são conhecidos no varejo uma vez que pequenas indulgências. O chocolate registra queda superior a 5% em unidades compradas neste início de ano, assim uma vez que os biscoitos, que recuaram 3,7% no carrinho. O leite condensado e o creme de leite caíram em torno de 2,5% em unidades.

O que labareda a atenção é a categoria de produtos de limpeza. Embora não tenham sofrido aumento de preço significativo, alguns itens uma vez que o lava-roupas líquido ou em pó também apresentam uma ligeiro variação negativa no volume de compras por consumidor. Foi também o caso dos produtos de higiene pessoal, uma vez que os sabonetes líquido ou em barra (-2%) e os desodorantes (-0,6%).

Para Fernando Faro, diretor da Varejo 360, isso significa que os preços dos produtos da cesta de vitualhas estão pressionando estas outras categorias. O cenário indica que as indústrias de limpeza e perfumaria podem ter dificuldade maior em repassar aumento de custos, porque mesmo sem gabar os valores, já estão sentindo resistência do consumidor.

“As pessoas estão tendo que fazer escolhas e estão priorizando a sustento. Para prometer a xícara do moca, que está muito dispendioso, elas estão abrindo mão de outra coisa. O cobertor está pequeno. Estamos falando de classe média para ordinário, principalmente baixa renda, que é o consumidor que tende a replicar esse movimento”, diz Faro.

Outra mudança típica de tempos inflacionários, a troca de marcas mais caras por outras mais em conta já começou a romper desde o último trimestre do ano pretérito, segundo Ricardo Cobacho, diretor do GoodBom, rede de supermercados do interno de SP.

“Quando isso acontece, nós, do lado do varejista, também sentimos uma perda de margem, porque não conseguimos repassar os aumentos que vêm da indústria. E agora, com o reajuste do diesel, vamos ter dificuldades”, afirma Cobacho.

Uma das tendências do consumidor que está mais sensível aos preços é ceder os produtos de fabricantes que representam qualquer status -as chamadas marcas aspiracionais- e partir para aqueles conhecidos uma vez que marcas próprias, que são linhas de mercadorias das redes de varejistas, geralmente com preços mais baratos.

Em janeiro, os itens de marcas próprias registraram propagação totalidade em torno de 20% em relação ao mesmo mês de 2024, segundo Antônio Sá, sócio da Amicci, empresa que desenvolve esse tipo de resultado.

Para Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva, o processo de adaptação do consumidor ao cenário inflacionário é gradual. Segundo ele, também é provável observar um fracionamento das compras, postergando a compra de alguns itens.

“Ele pode levar um moca melhor para servir no domingo e outro para o dia a dia. Conforme a programação mensal do orçamento, se vai romper um ponta, uma renda extra, ele vai jogando com uma lógica de ponderar as contas. No caso dos produtos de limpeza, pode ter uma diluição. Aquele sabão que durava dez lavagens passa a perseverar 12”, diz Meirelles.

Segundo José Rafael Vasquez, CEO do Sam’s Club e Carrefour Varejo, desde o ano pretérito, já é provável perceber uma crescente procura por marca própria nas lojas. “Notamos uma mudança no perfil de consumo, com os clientes priorizando itens essenciais e produtos de menor dispêndio, o que reflete a adaptação à situação econômica atual. Essa estratégia de oferecer opções mais econômicas e de qualidade tem se mostrado eficiente, mormente em regiões com maior concentração de consumidores de classe média e baixa”, afirma.

Para a companhia, o caso das indulgências alimentares, de higiene e venustidade ainda não trouxe impacto tão significativo, mas já se observa uma redução na compra de outra categoria vendida nas grandes redes, que são os bens semiduráveis, uma vez que TVs e traço branca, principalmente no primícias do ano. “Isso reflete claramente essa mudança no comportamento do consumidor, que tem buscado maior estabilidade no orçamento familiar”, diz.

Leia Também: BNDES vai ajudar RS no planejamento de enfrentamento ao clima extremo