MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Apesar do desenvolvimento do fenômeno climatológico La Niña, que favorece o resfriamento das temperaturas globais, o ano já começou com um novo recorde de calor. O primeiro mês de 2025 acaba de ser proferido o janeiro mais quente da série histórica pelo observatório Copernicus, da União Europeia.

 

O resultado surpreendeu os cientistas, que diziam já esperar ver os primeiros sinais de abrandecimento do calor.

“Janeiro de 2025 é mais um mês surpreendente, dando ininterrupção às temperaturas recordes observadas nos últimos dois anos, apesar do desenvolvimento das condições de La Niña no Pacífico tropical e do seu efeito temporário de resfriamento nas temperaturas globais”, enfatizou Samantha Burgess, líder estratégica de clima no Meio Europeu de Previsões Meteorológicas de Médio Prazo (ECMWF).

A temperatura média da superfície do ar foi de 13,23°C, ficando 1,75°C supra dos níveis pré-industriais, período considerado uma vez que parâmetro para os termômetros antes da emissão em larga graduação de gases-estufa e de seus efeitos no clima.

O recordista anterior, janeiro de 2024, teve temperatura média na superfície de 13,14°C.

Em seguida dois anos em que o El Niño favoreceu temperaturas mais altas, a expectativa era que a chegada do fenômeno oposto, o La Niña, contribuísse para mitigar os termômetros neste primícias de ano. Não foi o que aconteceu.

“Janeiro de 2025 superou o recorde anterior estabelecido em janeiro de 2024 por uma margem significativa. E, ao contrário dos recordes anteriores em janeiros passados (2007, 2016, 2020 e 2024), atualmente não há um evento El Niño impulsionando as temperaturas globais”, disse o pesquisador climatológico profissional em dados Zeke Hausfather, em uma publicação esmiuçando os resultados.

“Pelo contrário, o mundo está sob condições moderadas de La Niña, que, em teoria, deveriam resultar em temperaturas globais mais baixas”, completou.

Embora contribua para uma redução pontual e temporária nas temperaturas, o fenômeno La Niña não desacelera as mudanças climáticas. A redução das emissões e da concentração de gases-estufa, oriundos principalmente do uso de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás originário), é a única forma efetiva para frear o aquecimento.

Leste foi o 18º mês, nos últimos 19 meses, a registrar aquecimento superior a 1,5°C em relação à estação anterior à Revolução Industrial. Essa zero, que é considerada pelos cientistas uma vez que o teto para evitar as piores consequências das mudanças climáticas, é também o limite preferencial pactuado no Convenção de Paris, de 2015.

Há menos de um mês, de forma independente, várias instituições -incluindo o próprio Copernicus, a Nasa e a Organização Meteorológica Mundial, vinculada à ONU (Organização das Nações Unidas)- confirmaram que 2024 superou 2023 uma vez que o ano mais quente da história da humanidade.

Para a maior segmento dessas instituições, 2024 foi também o primeiro ano com média de temperatura superior a 1,5°C em relação aos valores pré-industriais. No operação dos europeus, o aquecimento do ano pretérito foi 1,6°C supra da média entre 1850 e 1900.

Embora afirmem que o resultado é motivo de alerta, os pesquisadores destacam que a barreira de 1,5°C ainda não foi definitivamente rompida. Para que isso aconteça, serão necessários ainda vários anos com os termômetros supra deste patamar.

“É importante enfatizar que um único ano supra de 1,5°C não significa que não conseguimos executar as metas de temperatura de longo prazo do Convenção de Paris, que são medidas por décadas, não em um ano específico”, disse Sidéreo Saulo, secretária-geral da Organização Meteorológica Mundial.

“No entanto, é principal reconhecer que cada fração de um intensidade de aquecimento é importante. Seja em um nível aquém ou supra da meta de 1,5°C, cada incremento suplementar de aquecimento global aumenta os impactos sobre nossas vidas, economias e nosso planeta.”

Segundo o Copernicus, o período dos últimos 12 meses, de fevereiro de 2024 a janeiro de 2025, ficou 1,61°C supra da média estimada de 1850 a 1900. Na verificação com pausa mais recente, de 1991 a 2020, o aumento foi de 0,73°C.

Em janeiro, a temperatura média terrestre na Europa -onde é inverno- foi de 1,8°C, ficando 2,51°C supra da média para o mês no período de 1991 a 2020. Leste foi o segundo janeiro mais quente da série histórica na região, detrás unicamente do de 2020, que ficou 2,64°C supra da média.

Fora do velho continente, as temperaturas estiveram muito supra da média no nordeste e noroeste do Canadá, Alasca e Sibéria. Também ficaram supra da média no sul da América do Sul, na África e em grande segmento da Austrália e da Antártida.

De modo universal, o mês mais quente já documentado no planeta, segundo o observatório Copernicus, foi julho de 2023. Durante o verão no hemisfério Setentrião, ele teve temperatura média da superfície do ar de 16,95°C.

Em segundo lugar no pódio universal, aparece julho de 2024, que, embora tenha registrado os dois dias mais quentes da série histórica, foi 0,04°C mais fresco. Ambos os recordes aconteceram em condições de El Niño.