A indústria brasileira fechou o ano pretérito com desenvolvimento de 3,1%, o terceiro melhor resultado nos últimos 15 anos, ficando detrás de 2010, quando registrou subida de 10,2%, e 2021, com taxa de 3,9%, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal, divulgados nesta quarta, 5, pelo Instituto Brasílio de Geografia e Estatística (IBGE).
Apesar do bom resultado do ano, o setor encerrou 2024 com o pé no freio. A produção recuou 0,3% em dezembro perante novembro, o terceiro resultado negativo ininterrupto. Uma sequência de três quedas na produção não era vista desde 2021.
No entanto, a perda foi muito mais amena do que a queda mediana de 1,2% prevista por analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast. No quarto trimestre, a produção teve ligeiro recuo de 0,1% perante o trimestre imediatamente anterior.
Apesar do menor ritmo dos últimos meses, o saldo final da produção em 2024 foi robusto, com desenvolvimento considerável em relação a 2023 (0,1%), avaliou André Macedo. “Isso contrasta com essa leitura do final do ano de 2024, com essa perda de intensidade”, disse Macedo. “O ponto mais ressaltado da produção no ano de 2024 foi conseguido no mês de junho.”
Macedo diz que o desenvolvimento do setor industrial em 2024 foi impulsionado pelo aquecimento do mercado de trabalho, com redução no desemprego, maior número de pessoas trabalhando e aumento na tamanho de salários em circulação na economia. O cenário favorável levou a um aumento no consumo das famílias, beneficiado por medidas de estímulos fiscais, subida na renda e maior licença de crédito.
“Ao longo do ano, a indústria consolidou um processo de recuperação, com a produção do setor tendo sido puxada, em maior medida, pelos setores produtores de bens de consumo duráveis e de bens de capital”, diz a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
No entanto, a entidade espera que a tendência de adaptação observada ao término de 2024 se intensifique ao longo de 2025, sob impacto do aperto monetário, menor impulso fiscal e envolvente extrínseco mais provocador.
“Diante do conjunto de informações disponíveis até o momento, a Fiesp espera que a produção industrial cresça 1,3% em 2025”, projeta.
Segmentos
O desenvolvimento na produção industrial em 2024 foi disseminado, com expansão nas quatro grandes categorias econômicas e em 20 dos 25 ramos industriais pesquisados. As principais influências positivas para a média totalidade da indústria partiram de veículos automotores (12,5%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (14,7%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (12,2%), produtos alimentícios (1,5%) e produtos químicos (3,3%).
Entre as categorias de uso, os destaques foram os avanços em bens de consumo duráveis (10,6%) e bens de capital (9,1%), embora também tenham desenvolvido os bens intermediários (2,5%) e os bens de consumo semiduráveis e não duráveis (2,4%).
Macedo explica que os bens de capital e os bens duráveis se beneficiaram da lance econômica positiva ao longo de 2024, uma vez que a reversão desse cenário favorável ocorreu exclusivamente nos últimos meses do ano. Outrossim, ele ressalta que os bens de capital vinham ainda de uma base de conferência baixa, pois recuaram 11,7% em 2023. “A base de conferência é um fator importante. É um desenvolvimento que se dá sobre essa base de conferência muito depreciada”, diz.
PIB
O resultado melhor do que o esperado em dezembro fez o banco Santander Brasil aumentar sua projeção para o Resultado Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre, de uma subida de 0,4% para 0,5%, informou o economista do banco Gabriel Couto. “No universal, o resultado reforça o nosso cenário de desaceleração gradual da atividade econômica nos próximos meses, com contribuições positivas de segmentos não cíclicos, uma vez que a lavoura.”
O economista Pedro Crispim, da gestora de recursos da G5 Partners, diz que há cada vez mais indícios de uma eventual desaceleração da economia, mas concorda com a avaliação do Comitê de Política Monetária (Copom) de que é preciso cautela para firmar uma leitura categórica sobre o comportamento da atividade econômica.
Para ele, é preciso esperar um conjunto mais vasto de dados que ainda serão divulgados, sobretudo os referentes ao primeiro trimestre de 2025, para fincar a avaliação sobre o comportamento da atividade. “O debate do Copom sobre a desaceleração econômica é uma preocupação legítima”, afirma Crispim.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.