Mulher, negra, pobre, gari e analfabeta cria ONG e, há dez anos, transforma a vida de centenas de crianças em Porto Alegre (RS). A meta é tirar as crianças das ruas e dar uma perspectiva de futuro para elas. Desde 1996, Rozeli da Silva fez de sua luta pessoal um propósito de vida.
Ela, que cresceu rodeada pela pobreza e hoje está viva graças às doações de comida que recebia ao pedir de porta em porta, decidiu que era importante contar para o mundo que não existe criança de rua. Nenhuma delas brotou do asfalto, nasceu nos becos ou foi colocada ali pela cegonha.
Todas têm família e história, não cabe a ninguém o direito de dar nomes a elas: “trombadinhas ou qualquer outra ofensa não as representam”.
Desde que começou a trabalhar como varredora de rua, Rozeli entendeu que poderia ser capaz de realizar o que um dia sonhou: juntar as crianças que vivem na rua e cuidar de cada uma delas, abraçando sua história, seus medos, suas inseguranças e seus traumas.
Lea, assistente social, foi personagem deste sonho e peça fundamental dentro da
construção da ONG Renascer da Esperança. Por muito tempo, era ela quem escrevia e divulgava as ideias que estavam dentro do coração e da cabeça de Rozeli.
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Com a ajuda de outras pessoas da comunidade, o projeto da ONG foi estruturado, graças ao advogado Dr. João Plinio de Almeida. E o analfabetismo de Rozeli foi ficando para trás com o cuidado e a paciência da lavadeira Dona Neli.
Primeiros passos
Em 1998, três anos depois da estruturação do projeto e de muitos dias e meses com ele embaixo do braço, a ONG ganhou sua sede, duas casinhas de madeira em um grande pátio da União, cedido pelo presidente da empresa em que Rozeli trabalhava.
De lá pra cá, tudo mudou! A comunidade veio com braços e peças fundamentais para a estruturação de um lugar de acolhimento, incentivo a educação, ao esporte e, principalmente, ao renascer da esperança na vida de centenas de crianças da região.
Hoje, cuidando de mais 360 crianças com reforço escolar, oficinas extracurriculares e diversas atividades, a ONG Renascer da Esperança colhe frutos de um sonho que, com
muita dedicação e superação, se tornou real.
“Eu sou gari, negra, pobre, não sabia nem ler e nem escrever. Fui vítima de violência doméstica, vivi em cárcere privado, fui mãe aos 12 anos e, por muito tempo, quando não era invisível, era tratada como lixo, contou Rozeli.
“Hoje, represento para as crianças que acolhemos a esperança de que existe sim uma saída e que, quando acolhemos com amor a nossa história e a de quem está ao nosso redor, podemos mudar o mundo”
SOCIAL – Razões para Acreditar