Não é só a dificuldade que é capaz de gerar gatilhos do bem nas pessoas. Nem sempre a empatia vem pela semelhança nas histórias de vida ou das faltas. Em alguns casos, a necessidade de fazer mais pelo mundo nasce da vontade de dar aos outros as mesmas oportunidades que se teve. Brota da sede de justiça e da coragem de partilhar. Foi isso que o casal Iara e Eduardo, Caçadores de Bons Exemplos, encontrou quando cruzaram o caminho da Associação Arte Cidadã, no Mato Grosso.
“Quando o chamado é real, a gente vê nos olhos e a vontade de fazer acontecer sem desculpas. Eles não tinham lugar, fizeram por anos dentro de casa, não tinham instrumentos, começaram com o coral. A força de vontade de fazer acontecer é motivadora e nos faz relembrar que as coisas dão certo quando a intenção é boa e a ação existe!”, contam Iara e Eduardo.
Jeferson Gonçalo Ribeiro, um ex-seminarista, teve a possibilidade de viajar, conhecer o mundo, lugares e culturas muito além dos muros de Santo Antônio do Leverger (MT). E sair de sua cidade fez com que crescesse nele a vontade de dar para as pessoas dali as oportunidades que eram tão abundantes nos lugares em que conheceu.
Quando e como nasceu o Arte Cidadã
Foi então que, em 1992, começou a desenvolver um trabalho com música – com o qual se deu conta de que o povo de sua cidade precisava de ajuda. Com os índices de gravidez na adolescência batendo recordes e o tráfico de drogas dominando a vida dos jovens, ele entendeu que era hora de usar do canto e dos instrumentos para fazer ainda mais diferença na vida daquela comunidade.
Assumiu, então, o papel de professor de música da rede pública e criou um coral adulto. O trabalho floresceu e logo se transformou em dois corais, depois em três e, quando Jeferson percebeu, sua casa estava tomada por crianças, jovens e adultos que buscavam aprender a arte!
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Os resultados eram enormes, as ruas já não eram a única opção das pessoas. Maturidade, responsabilidade e disciplina vinham como bônus das aulas de música que, além de uma ocupação do tempo, se transformava para muitos em uma possibilidade de trabalho.
“O [projeto] Arte Cidadã é tudo na minha vida. Nele eu encontrei meu propósito, meu trabalho e minha família, não só a de consideração – que são meus alunos – mas, minha esposa também. Ela cantava no coro e quando nos casamos ela ‘comprou o pacote’ completo’”! Hoje, ela é a presidente da Associação. E o que comecei sozinho, sem grandes pretensões, só cresceu, porque juntei forças com a Magda.
Nós acreditamos que o nosso trabalho tem um impacto real na vida das pessoas e por isso nos dedicamos tanto a ele”, ressalta Jeferson.
Com tanto sucesso, os professores da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT)
chegaram à Associação Arte Cidadã, que agora se tornaria um núcleo de extensão da
UFMT. Este novo passo fez com que a quantidade de alunos crescesse significativamente
e a casa de Jeferson se tornasse um local inviável. A próxima grande mudança do projeto foi passar a dar suas aulas em uma escola estadual do município.
“A gente acredita que, se fizer um bem para esta cidade, vai inspirar outras pessoas e
multiplicar isso para outros lugares. Muita gente diz que se a gente fosse para Cuiabá teria dinheiro. Mas foi aqui que ‘fomos provocados’ e é nessa realidade que queremos intervir”, finaliza Jeferson, emocionado.
SOCIAL – Razões para Acreditar