SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Diego Grossi não apareceu no documentário sobre o BBB exibido pela Mundo na semana passada. Mas assistiu aos episódios e memorizou uma frase de John de Mol, pai do formato. “O Big Brother é um programa que pega uma pessoa normal e a transforma em artista”, repete.

 

Foi mal ele se sentiu ao deixar a 14ª edição do reality, em 2014. Na estação, com o trabalho de influenciador ainda em estágio embrionário, os ex-BBBs viviam da famosa “presença VIP”, que consistia em lucrar cachê somente para dar pinta em eventos e festas.

“A gente ia para boate com segurança, bebida e cachê. Cheguei a fazer uma no Nordeste em que rodei uns seis estados, o cachê era muito bom”, lembra ele em entrevista à reportagem, com ares de nostalgia. “Hoje em dia, não tem mais presença VIP. Só te chamam para um evento se você for uma atração, ou seja, se trovar, dançar, fizer stand-up, alguma coisa.”

A vida de “artista” lhe rendeu ainda outros dois reality shows, Power Couple, em 2018, e A Herdade 11, em 2019, ambos na Record. Com a visibilidade, cresciam as oportunidades de campanhas, presenças VIP e “publis”. Porém, passada essa temporada, os trabalhos foram minguando.

Nos últimos anos, o ex-BBB viveu basicamente de campanhas de internet, cobrando um pacote fechado para postar stories no Instagram. Os clientes eram restaurantes, pousadas, marcas de roupa e de whey protein. Até que um companheiro de um companheiro o procurou oferecendo um bom cachê para vulgarizar uma vivenda virtual de apostas. Diego assinou contrato de nove meses com a bet, ainda sem saber recta do que se tratava.

Pouco tempo depois, as casas de aposta se tornaram febre no Brasil, patrocinando eventos com grandes públicos, campeonatos de futebol e até o próprio BBB. Artistas e influenciadores uma vez que Virginia Fonseca, Cauã Reymond e Neymar lucram milhões com cachês pagos pelas maiores empresas do ramo, que já operam de forma lícita.

“Comecei influenciando pessoas a jogarem”, conta Diego. Um dia, ele se tornou objectivo da própria propaganda e apostou R$ 100. Ganhou R$ 9 milénio. A partir daí, não desgrudou mais do celular. “Todo lugar que eu ia, ficava jogando. Virava a noite jogando: às vezes ganhava, mas no dia seguinte perdia tudo”, relata. “Sempre achava que ia restaurar, aumentava a aposta e perdia mais.”

Ele conta que começou com apostas esportivas em times de futebol e, em seguida, migrou para os cassinos virtuais, que geralmente ficam abrigados nas mesmas plataformas. “Jogava roleta, bacará, oferecido… Cada um desses sites tem muitos, muitos jogos”, conta. Diego calcula que perdeu R$ 50 milénio nas bets e outros R$ 50 milénio nos jogos de cassino.

Perdeu também amigos, a quem começou a pedir numerário emprestado. “A gente consegue esconder até claro ponto, mas chega uma hora que a explosivo estoura”, diz.

NEGÓCIO DO MAL

Afundado no vício, Diego precisou repor a vivenda no Jacarepaguá (na zona oeste do Rio) onde morava com a mulher, Franciele Almeida, que conheceu no BBB, e o fruto deles, Enrico, de quatro anos.

Fran terminou o relacionamento e voltou para a vivenda da mãe. Diego também voltou para a vivenda dos pais. Foram dois meses fazendo de tudo para tentar restaurar o conúbio. Até pedir ajuda aos fãs no Instagram ele pediu. Deu claro.

Atualmente, Diego faz tratamento com psiquiatra para se livrar do vício e mora entre a vivenda da mãe e a da sogra. Nas redes sociais, vem fazendo campanha contrária à que fazia no ano pretérito: tentando ajudar pessoas que, uma vez que ele, se viciaram nos jogos.

“Recebo milhares de mensagens de gente que perdeu empresa, loja, vivenda, que está devendo usurário, pensando em tirar a própria vida. Tem muita gente adoecida. Mas é uma doença à qual ninguém quer dar ouvidos porque tem muito numerário envolvido”, diz.

Enquanto dava entrevista à reportagem, Diego atendeu o telefone. Era uma vivenda de apostas oferecendo promoções para que ele voltasse a jogar. “O negócio é do mal”, diz. Em seguida, pondera: “Quer proferir, tem gente que consegue jogar esportivamente. Não sou contra o jogo. Vivemos em um mundo numulário e o numerário é o que abre portas. E onde o numerário está circulando no momento é nas casas de aposta.”

VIDA NORMAL

Agora, Diego sonha em voltar à vida de “pessoa normal” que tinha antes do BBB. Quer um ofício CLT na espaço de publicidade, profissão que praticamente abandonou em seguida transpor do reality.

“Sempre que me perguntavam se eu me arrependia de um pouco do BBB, eu dizia que não. Hoje me arrependo de não ter voltado para a minha espaço mal saí”, conta ele, que diz ter pretérito por grandes agências de publicidade do Rio. “Fui procurar ofício e vi que estou defasado. Foram dez anos fora. As ferramentas mudaram, os programas mudaram”, diz.

“Quando a gente sai do programa é uma euforia, uma coisa tão louca, que você acha que virou artista e vai viver disso para sempre”, afirma.

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