Varanda metálica, acoplada como peça de Lego, vira alternativa para prédios antigos

BRUNO XAVIER
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Muitos prédios antigos em São Paulo foram construídos sem incluir uma varanda ou sacada no projeto. Hoje, quase indispensáveis em novos empreendimentos, uma opção para incluir os edifícios mais antigos na novidade voga é a acoplagem de varandas. Nesse processo, uma varanda é construída de fora para dentro dos apartamentos, utilizando estruturas metálicas.

 

Apesar de invocar atenção, a técnica ainda enfrenta um grande travanca: o preço. O dispêndio por metro quadrilátero da obra pode variar de R$ 2.500 a R$ 10 milénio, tornando-a inviável para muitos condôminos e concentrando os novos empreendimentos nas áreas mais ricas da cidade, porquê Itaim Bibi e Jardim Paulista.

O principal atrativo é a valorização do imóvel para atrair compradores e investidores. Com a novidade dimensão, o valor de venda do apartamento é maior, além de ser um espaço a mais na residência.
As principais preocupações incluem, fora o preço, o tempo de obras (que varia de pacto com o tamanho do prédio, mas pode chegar a um ano) e alterações no valor do IPTU (Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana).

Luciana Patriarcha, arquiteta urbanista, afirma que o valor do imposto pode, sim, subir para esses prédios. “Porque vai ter o novo conta do metro quadrilátero do apartamento, logo eles calculam, por exemplo, se você tiver mais 5 metros de varanda, aí eles vão incluir 5 metros a mais no valor que você paga”.

Luciana lembra que além do preço, outro critério importante para definir se o condomínio pode receber a obra são os recuos obrigatórios do terreno.
“Se o prédio estiver muito próximo do prédio da lateral, não conseguimos fazer essa estrutura, porque temos recuos mínimos laterais [na legislação]. Portanto não é verosímil estender essa laje em balanço porque excede esse recuo mínimo que a prefeitura exige. Não é uma obra que dá para fazer em todos os prédios”, diz.

A acoplagem é feita usando estruturas metálicas pré-fabricadas que são montadas no prédio “porquê se fossem Lego”, segundo Alberto Alves, responsável técnico da BR Retrofit, construtora voltada exclusivamente para obras do tipo.

“Ela vem desmontada, e a gente faz o parafusamento das peças. A chance de demorado diminui demais. Você já comprou a sua varanda pré-fabricada antes. Ela é parafusada por fora. Ou seja, a gente não entra nas unidades. Tudo é feito de fora para dentro sem incomodar o dia a dia”, afirma.

Alberto conta que a novidade ainda não decolou, com menos de dez obras do tipo sendo realizadas em São Paulo. Mas, segundo ele, com a popularização e a valorização dos imóveis, novos empreendimentos devem surgir nos próximos anos.

Para ele, a maior dificuldade do processo é o convencimento dos moradores dos prédios. Para realizar a acoplagem, é necessária a aprovação unânime do projeto na reunião do condomínio, um pouco difícil de ser realizado.
“É muito mais uma empreitada de psicologia, na verdade, do que de engenharia ou arquitetura, porque é muito multíplice obter o consenso dos condôminos para concordar internamente”.

Luís Ceotto, da construtora Urbic, também relata dificuldades na aprovação dos condôminos. Nos últimos três anos, segundo ele, oito condomínios solicitaram orçamentos de varandas metálicas, mas nenhum aprovou.

“Nós estamos tendo muita demanda para orçamento. Mas o orçamento não se reverte em contrato. Isso significa, de alguma maneira, que as pessoas que são contra estão ganhando. Ou estão postergando muito a definição”, diz.

Flávio Machado é síndico de um prédio no Itaim Bibi. Há três meses, o prédio que ele gerencia está passando por uma obra de acoplagem de varanda, realizada pela BR Retrofit, de Alberto.

Ele diz que o interesse dos condôminos pelo empreendimento surgiu vendo a mesma obra sendo realizada em outro prédio no bairro. O processo de aprovação interna durou muro de quatro anos, mas só foi concluído recentemente.

“O problema é que a legislação obriga que haja maioria absoluta, e aí você tem que mourejar com cenários de pessoas que, por razões ultra pessoais, não querem. Até que, cada vez mais, essa dificuldade de aprovação vai sendo vencida pela relação custo-benefício”, conta.

Flávio afirma que há muitos moradores que estão no condomínio desde que ele foi construído, o que adiciona uma resistência emocional a novas obras, mormente para moradores mais velhos. Apesar disso, ele relata que o processo vem sendo ratificado pelos condôminos.

“É uma obra que não invade os apartamentos, feita na dimensão externa, com pouco transtorno. Evidentemente que na tempo da demolição você tem estrondo, mas isso dura noventa dias, e depois que acaba é uma obra limpa. Até hoje nós não tivemos nenhuma reclamação”.

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