Uma nova vida para moradores de rua é a proposta do projeto HumanizAção

Fotos: Fernando Abreu/Secom

O Sr. José, de 66 anos, durante muito tempo, não conseguia reconhecer nem mesmo a própria identidade. Não parecia se lembrar do próprio nome.

Morou nas ruas do Centro de Sorocaba por mais de 20 anos. Interagia com alguns moradores próximos, mas também causava estranheza ou receio em outras. Com barba e cabelos longos e embranquecidos pela idade, bastante sujo e maltrapilho, costumava empurrar um carrinho pelas ruas, repleto de quinquilharias. Acabou se tornando uma figura conhecida, apesar de falar pouco ou mal se comunicar com outras pessoas.

Bem diferente de como se encontra agora, depois de ter recebido assistência médica e psicológica e de aceitar morar em uma residência terapêutica, onde se encontra há poucos dias. “Os progressos são enormes. Tem muita coisa acontecendo, em um curto espaço de tempo. Quem vê de fora, talvez não perceba, mas a evolução é notável para nós que passamos a interagir com ele no dia a dia”, relata Denise Bernal Estaregui, que atua como referência técnica no local e é coordenadora de três residências terapêuticas no município.

Sr. José, agora, está mais comunicativo, sorri muitas vezes ao tentar puxar conversa com as pessoas e mudou, até mesmo, o aspecto físico. Os cabelos ainda são longos, de acordo com sua preferência, mas aceitou se barbear, usa roupas limpas e confortáveis e está mantendo os hábitos de higiene. E aparenta estar feliz ao dividir a moradia com outros nove residentes da casa e ter acesso à alimentação e um lugar confortável para dormir e conviver.

Por muitas vezes, a Prefeitura de Sorocaba, por meio das ações sociais e de saúde conduzidas pelas diversas secretarias, tentou prestar assistência ao Sr. José, mas ele sempre foi arredio. Apesar das tentativas frustradas, seu caso era conhecido e acompanhado de perto. “Descobrimos que ele veio de várias internações em instituições mentais no passado. No Instituto Teixeira Lima e no Hospital Jardim das Acácias. Em todas as vezes, ele fugiu. Ele havia recebido um diagnóstico de transtorno mental, provavelmente desencadeado pelo uso de drogas. Mas, há alguns anos, ele não consome mais álcool, nem drogas. Mas estava colocando a própria saúde em risco, principalmente por comer comida do lixo. Por isso, foi tão importante a mudança”, afirma Eline Araújo Vitor, coordenadora de Saúde Mental da Secretaria de Saúde de Sorocaba.

Eu morava, antes, no Jardim dos Estados. Mas fiquei muitos anos nas ruas. Agora, estou aqui, nesta casa. É bom (risos)”, fala o Sr. José.

O único vínculo familiar que ainda mantinha era com uma irmã, já bastante idosa. Mas, ela faleceu recentemente, no dia 24 de janeiro.

Neste momento, o Sr. José parece estar se adaptando muito bem à nova condição. Após a operação conjunta entre Secretaria de Cidadania (Secid) e Secretaria de Saúde (SES), ele já passou por avaliação médica e psiquiátrica, na UBS e no CAPS, para onde está sendo encaminhado para acompanhamento ambulatorial. Seu número de CPF foi resgatado e serão providenciadas as outras documentações, inclusive para verificar seu direito a receber o benefício da seguridade social.

Neste mês de fevereiro, a Prefeitura de Sorocaba lançará, por meio da Secretaria de Cidadania, o projeto HumanizAção. O objetivo é proporcionar a outras pessoas em situação de rua e vulnerabilidade social a mesma oportunidade que foi oferecida ao Sr. José. Serão oferecidos serviços de assistência social, saúde e todo amparo possível para que essas pessoas tenham a chance de serem reintegradas ao convívio da família e da comunidade. “O projeto HumanizaAção nasceu do desejo do prefeito Rodrigo Manga de resgatar a dignidade das pessoas em situação de rua. Esse projeto visa despertar a perspectiva de futuro dessas pessoas. Vai além da oferta de refeição ou pernoites. É algo mais amplo, envolvendo a Secretaria de Cidadania, em parceria com as demais secretarias, instituições conveniadas, ONGs e empresas privadas. Buscaremos oferecer oportunidades de tratamento, cursos de formação e profissionalizantes, a fim de que essas pessoas voltem ao convívio social de maneira digna, tornando a se sentir parte da nossa sociedade”, afirma Clayton Lustosa, secretário de Cidadania.




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