SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Elon Musk, a pessoa mais rica do mundo, está influenciando os mercados. Tuitando.
O caso mais recente foi com a Dogecoin, uma moeda digital representada por um cachorro de raça japonesa até então pouco expressiva e considerada uma piada. “Sem altas, nem baixas, apenas Doge”, escreveu o presidente da Tesla e da SpaceX. Horas depois de a mensagem ir ao ar, o valor da criptomoeda aumentou mais de 50%.
Essa não foi a primeira vez que Musk comentou sobre criptomoedas -e todas tiveram o mesmo efeito.
Dias antes ele havia alterado sua descrição no Twitter, campo em que as pessoas geralmente colocam a profissão ou uma mensagem motivacional, para a hashtag “bitcon” -e só. A outra criptomoeda valorizou 20%.
Na segunda-feira (8), a Tesla anunciou ter investido US$ 1,5 bilhão em bitcoins, e acenou que pode aceitar futuramente a moeda como pagamento para seus produtos.
Os exemplos são inúmeros. Musk elogiou o ecommerce Shopify, e as ações da empresa valorizaram 3,5%. Declarou amor pelo site de comércio eletrônico Etsy, e os papéis subiram 9%. Orientou seus seguidores a usarem o aplicativo de mensagens criptografadas Signal, e as ações de outra empresa não relacionada, porém com o mesmo nome, cresceram
mais de 1.000% (o Signal não tem capital aberto em Bolsa).
Mas longe de ser considerado um “dedo de ouro”, Musk é na verdade bastante criticado pelas especulações que provoca. Isso porque o bilionário já reconheceu usar a rede social como brincadeira, que acaba sendo levada a sério por seus seguidores.
São mais de 45 milhões deles, alguns dos quais interpretam os tuítes de Musk como conselhos de finanças. Não à toa: ele é hoje a pessoa mais rica do mundo, com uma fortuna de US$ 199 bilhões (R$ 1,1 trilhão), segundo a Bloomberg.
Outro exemplo de brincadeira com consequências no mercado foi Musk ter se juntado ao movimento coordenado de especuladores no Reddit, outra rede social, para alavancar as ações da GameStop.
Musk postou um trocadilho com o nome da varejista de jogos e uma gíria para especuladores, junto ao link para o fórum em que a discussão sobre a estratégia acontecia. Como em outras ocasiões, a mensagem foi vista como apoio ao movimento e as ações da GameStop dispararam ainda mais.
Em um caso mais antigo, que fez o empresário ser processado em 2018, envolveu sua própria companhia de automóveis elétricos, a Tesla. Na ocasião, escreveu que fecharia o capital da empresa quando as ações chegassem a US$ 420, o que nunca aconteceu.
Por essa última, Musk teve de pagar uma multa de US$ 20 milhões à SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos).
O magnata já reconheceu o teor cômico de seus tuítes. Reconheceu também saber o poder que eles têm.
“Ocasionalmente eu faço piadas com a Dogecoin, mas realmente são só brincadeiras”, disse ele no dia 31 de janeiro em uma conversa no Clubhouse, rede social de áudio. “Dá pra argumentar que o resultado mais divertido, o mais irônico, seria a Dogecoin virar a moeda do futuro.”
Aliás, sua participação no Clubhouse também impulsionou os acessos ao aplicativo.
As críticas vão no sentido de que Musk pode enriquecer com suas brincadeiras, enquanto talvez prejudicar pequenos e inexperientes investidores do mercado. No caso do Signal, a empresa que teve suas ações valorizadas em um dia, a Signal Advance, sofreu grandes perdas assim que a confusão foi esclarecida.
“Musk pode enriquecer com um tuíte. Ele pode ser inovador, mas isso não o coloca acima da lei”, disse à CNBC o investidor de tecnologia Rich Pleeth.
“Elon Musk me lembra um bilionário que joga uma nota de US$ 100 no trânsito e assiste aos pobres brigarem pela nota enquanto podem ser atropelados por um ônibus”, comentou um usuário do Reddit.
“Ele é ao mesmo tempo um herói capitalista, uma celebridade lustrosa de revista, e um bombástico troll com 44 milhões de seguidores no Twitter”, escreveu o New York Times. “O homem mais rico do mundo é também, de alguma forma, um herói da multidão anti-establishment, inflando multidões digitais, um tuíte por vez.”
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