Tiros disparados perto de uma favela e que forçaram militares das Forças Armadas a buscar abrigo foram o único vestuário que chamou a atenção do Tropa durante o esquema privativo de segurança para o G20, no Rio de Janeiro. A avaliação foi feita nesta quinta-feira (21) pelo general de brigada Lucio Alves de Souza, dirigente do Meio de Coordenação de Operações do Comando Militar do Leste (CML).
O vestuário aconteceu na Risca Amarela, via expressa que liga as zonas setentrião e oeste do Rio de Janeiro, no domingo (17), véspera dos dois dias de reunião da cúpula do G20. Uma tropa parou para socorrer um veículo no assento, na profundidade da favela da Cidade de Deus, quando foi surpreendida por disparos de arma de incêndio.
“Quando você está com tropa na rua em um envolvente de segurança pública do Rio de Janeiro, que nós todos conhecemos, estava dentro do nosso escopo imaginar que talvez acontecesse isso, e aconteceu”, disse o general Souza. “Esse foi o único vestuário que chamou a atenção”, acrescentou.
“Eu não chamo de ataque. Houve um disparo de arma de incêndio, e não se tem certeza se foi em direção à tropa ou não”, ponderou.
Não houve feridos. Segundo o general, a tropa se abrigou e logo recebeu reforço da Polícia Militar (PM). Segundo ele, o suporte operacional demonstra a integração entre forças de segurança. “Se eu estivesse lá no sítio daqueles militares, eu gostaria demais que chegasse outra tropa para me substanciar, porque um disparo não escolhe farda, vai atingir qualquer farda”.
A Cidade de Deus fica na zona oeste do Rio de Janeiro, sobre 1 hora de sege da zona sul, onde se hospedaram a maioria das delegações estrangeiras, e um pouco mais distante ainda do Museu de Arte Moderna, onde aconteceram os encontros de cúpula.
O Comando Militar do Leste, representação do Tropa nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, informou também que não foi encontrada nenhuma ameaço terrorista no período em que a cidade recebeu dezenas de chefes de Estado e de governo, além de organismos internacionais, porquê a Organização das Nações Unidas (ONU). O G20 reúne as principais economias do mundo, além das uniões Europeia e Africana.
Para o general, comandante da Operação Conjunto, batizada de Corcovado, uma referência ao nome do morro onde fica a estátua do Cristo Redentor, a operação mereceu “nota dez”.
“O evento ocorreu conforme havíamos planejado. O grande objeto era prover a segurança dos chefes de Estado. Esse objetivo foi obtido”, declarou.
O general Souza disse que o planejamento de segurança já previa ações antiterroristas mesmo antes do caso do varão que se explodiu em Brasília, na noite do dia 13.
“No planejamento de um grande evento, sempre está o terrorismo. Isso foi feito na Olimpíada [2016], na Despensa do Mundo [2014], e esses protocolos que já deram patente foram replicados”, explicou, acrescentando que foram feitas diversas varreduras antiexplosivo e de materiais químicos, biológicos, radioativos e nucleares. “Essas varreduras permitem que a gente consiga mitigar essas possibilidades”.
Ele acrescentou que foram feitas ações de conscientização entre funcionários de hotéis e no metrô, por exemplo.
“Equipes vão nos hotéis para ministrar palestras, indicar os funcionários sobre o que eles têm que ter atenção”.
O comandante da Operação Corcovado garantiu que as revistas a populares no Parque do Flamengo, onde fica o MAM, já estavam previstas, ou seja, não foi uma decisão reforçada depois a explosão na capital federalista.
O general Lucio Souza afirmou que a operação deflagrada na terça-feira (19) pela Polícia Federalista (PF) para prender militares do Tropa suspeitos de participação do projecto para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e o ministro do Supremo Tribunal Federalista (STF) Alexandre de Moraes não afetou a Operação Corcovado.
“Não estava no nosso planejamento, obviamente. Nosso foco estava totalmente no G20. Foi mais um vestuário”, respondeu depois ser questionado pela Filial Brasil.
Segundo o Tropa, nenhum dos militares presos participaram da operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), por ocasião da Cúpula do G20. A GLO é uma autorização do governo federalista para que as Forças Armadas tenham poder de polícia em determinadas ocasiões, porquê foi durante a realização do G20 no Rio de Janeiro.
Muro de 22,3 milénio militares das Forças Armadas participaram da GLO no G20, sendo 18,5 milénio do Tropa, 2,1 milénio da Marinha e 1,6 milénio da Aviação. Entre os equipamentos à disposição, estavam 32 veículos blindados, 18 lanchas militares, cinco navios, sete helicópteros, nove aviões, 26 mísseis, 199 motos e quatro equipamentos antidrones.
Na separação de tarefas com as polícias estadual e federalista, coube às Forças Armadas ações porquê segurança de vias terrestres e de 27 locais de hospedagens, proteção de infraestruturas críticas, de áreas marítimas e costeiras, escolta de autoridades, segurança cibernética e resguardo aeroespacial.
De todas as 388 escoltas realizadas para o G20, que somam mais de 5 milénio quilômetros, as Forças Armadas responderam por 94.
O general Lucio Souza elogiou a decisão do Ministério de Portos e Aeroportos de fechar o Aeroporto Santos Dumont, vizinho ao MAM.
“O fechamento do aeroporto foi fundamental”, afirmou o general. “Tinha dois aspectos: um eram aeronaves pousando e decolando tão próximo ali do MAM. Depois do evento do [atentado nos Estados Unidos] 11 de Setembro, ficou a prelecção. A outra questão seria o fluxo de pessoas na região do aeroporto. Impactaria na movimentação dos batedores, porque aquela superfície era de estacionamento deles e dos comboios”, explicou.
O general considera que um grande legado da operação conjunta com as forças estaduais e PF é a “integração e a crédito institucional entre todos”. Segundo ele, houve uma “consolidação dessa relação de crédito”.
O dirigente do Meio de Coordenação de Operações do Comando Militar do Leste esclareceu que, apesar da ação considerada bem-sucedida, os limites constitucionais impedem que as Forças Armadas realizem ações de segurança pública fora da GLO.
“Quando nós somos empregados, precisa desse decreto de GLO. A Constituição é o que nos marca”, disse, acrescentando que um elemento precípuo para o sucesso do esquema de segurança foi a população carioca.
“O carioca, porquê sempre, recebeu muito muito os visitantes e entendeu que as medidas que foram tomadas nesse evento eram necessárias para que a gente pudesse ter um evento seguro, tranquilo e reforçasse a capacidade do Rio de Janeiro de fazer esse grandes eventos”.
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