FÁBIO PESCARINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Testemunhas deram depoimentos favoráveis à inocência do casal líbio-brasileiro Ahmed Hasan e Malak Hasan, preso desde novembro do ano passado na Turquia por suspeita de tráfico de cocaína. A afirmação é da defesa, após funcionários da alfândega do aeroporto de Istambul darem testemunhos à Justiça turca nesta quinta-feira (7).
Entretanto, como uma das testemunhas não compareceu à audiência, outra convocação foi marcada para 21 de maio. O casal continuará preso, ao menos até lá.
A defesa dos dois sustenta que eles foram vítimas de troca de etiquetas de bagagens no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, e as malas apreendidas na Turquia não são dos dois.
“Embora já tenha sido realizado teste de DNA nas bagagens com cocaína e não foram identificadas as digitais deles nas malas, o tribunal solicitou mais um exame para confirmar”, disse a advogada Luna Provázio, que defende o casal no Brasil.
Os dois foram presos em 30 de novembro, após julgamento no Tribunal Criminal da Turquia.
O empresário estava há cerca de seis meses sem poder sair da Turquia aguardando o julgamento por tráfico internacional de drogas.
Malak, que estava no Líbano, foi a Istambul naquele dia para participar da audiência na Justiça, pois disse ter acreditado que o processo seria encerrado, mas também acabou presa.
Segundo Provázio, um dos funcionários da alfândega do aeroporto de Istambul disse que ouviu boatos de que crime de troca de etiquetas acontece no Brasil, mas que não recebeu nenhuma informação da Policial Federal brasileira ou da Interpol confirmando que essas trocas de etiquetas já aconteceram outras vezes.
“Por isso a importância de a Presidência da República [brasileira] interferir no caso enviando uma carta ou fazendo uma ligação, deixando claro que isso já aconteceu outras vezes no Brasil. Precisa de uma confirmação desse crime de trocas de etiquetas no Brasil”, diz a defensora.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores afirma que por atender ao direito à privacidade e em observância à legislação, a pasta não fornece informações específicas sobre casos individuais de assistência a cidadãos brasileiros.
Mas o Itamaraty diz que por meio do Consulado-Geral do Brasil em Istambul, acompanha o assunto com atenção e que “presta assistência consular aos nacionais brasileiros desde julho de 2023”.
“A assistência é prestada pelas autoridades consulares brasileiras, conforme as circunstâncias específicas do caso, em que os envolvidos também possuem nacionalidade turca, ou seja, estão detidos em país do qual são cidadãos”, diz trecho da nota.
A troca de etiquetas em bagagens para tráfico internacional de drogas não é inédita no país. As brasileiras Kátyna Baía e Jeanne Paolini ficaram 38 dias presas em Frankfurt no ano passado, pela mesma acusação. Elas foram soltas e nesta semana a Justiça da Alemanha decidiu que elas terão direito a uma indenização pela prisão injusta.
A defesa no Brasil (que é a mesma nos dois casos) disse recentemente que o casal detido na Turquia foi vítima da quadrilha que trocou as etiquetas das malas das brasileiras.
O Tribunal turco, afirma a advogada Provázio não questionou nenhuma das provas de defesa.
“A impressão que temos é que eles realmente não entendem que é possível que criminosos troquem etiquetas no aeroporto de Guarulhos [onde tanto o casal preso na Turquia quanto as brasileiras detidas na Alemanha embarcaram] sem que a etiqueta rasgue.”
“Inclusive, uma das perguntas feitas ao funcionário da alfândega era se a etiqueta estava em mau estado e ele disse ‘que sim, mas não estava rasgada'”, conta.
Apesar da indefinição, a defesa está esperançosa em conseguir provar a inocência do casal. “Estamos otimistas que eles não serão condenados porque não há nenhuma prova contra eles”, afirma. “Todas as provas do processo reforçam a inocência do casal, entretanto, o desgaste por eles ficarem presos provisoriamente, em presídios, é algo realmente muito triste e injusto.
Conforme a advogada, os dois poderiam responder ao processo com outras medidas de restrição de liberdade, como prisão domiciliar ou proibição de sair do país, entre outros.
O CASO
Ahmed e Malak são da Líbia, mas têm nacionalidade brasileira, porque os dois filhos -de 1 e 2 anos- nasceram no Brasil, e ainda são cidadãos turcos por causa das empresas que têm naquele país.
Eles moravam no Brasil, mas decidiram voltar a viver na Líbia, país no norte da África.
Em 22 de outubro de 2022, Ahmed e Malak partiram de Guarulhos, onde despacharam diversas bagagens, em um voo da Turkish Arline. A família desceu em Istambul e ficou alguns dias na Turquia, onde Ahmed tem uma empresa, antes de chegar à Líbia.
O empresário passou seis meses na Líbia sem nenhum problema. Mas, em 19 de maio de 2023, foi à Turquia para tratar de seus negócios. Ao chegar no aeroporto de Istambul ficou um dia detido sem saber o que estava acontecendo.
No dia seguinte, ele conseguiu contato com uma advogada e soube que estava sendo acusado de tráfico internacional de drogas. O empresário foi proibido de sair do país e acabou preso em novembro.
Em outubro passado, a Polícia Federal disse que as autoridades turcas pediram informações sobre Malak em 10 de julho passado, mas as imagens não estavam mais disponíveis devido ao tempo decorrido.
Contudo, disse a PF, descobriu-se que algumas das etiquetas impressas para as malas despachadas por Malak foram retiradas de suas bagagens e reutilizadas nas malas com droga no voo de 26 de outubro de 2022, culminando com a apreensão dos 43 kg de cocaína em malas com o seu nome na etiqueta.
A GRU Airport, concessionária que administra o aeroporto Internacional de São Paulo disse no ano passado que o manuseio das bagagens, desde o momento do check-in até a aeronave, é de responsabilidade das empresas aéreas.
Na época das prisões, a companhia aérea afirmou que estava checando as informações.
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