Teste ajuda a detectar predisposição à calvície a partir de amostra de saliva

ANDREZA DE OLIVEIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – É um consenso entre a comunidade médica que uma pessoa saudável perde, em média, cem fios de cabelo por dia. No entanto, quando se percebe um volume maior de queda, pode ser um sinal de alerta para problemas como a alopecia androgenética, a popular calvície.

Temida por muitos, a condição é genética e tem afetado cada vez mais jovens, principalmente em decorrência de hábitos como má alimentação e estresse somados ao fator hereditário. Hoje, no entanto, testes genéticos prometem facilitar a identificação desses casos e favorecem um tratamento mais eficaz e assertivo, de acordo com especialistas.

Esses testes avaliam a disponibilidade dos genes causadores da alopecia no paciente e se há predisposição para doenças capilares, segundo Thalita Rodrigues, médica tricologista e conselheira da ABT (Academia Brasileira de Tricologia). “Assim conseguimos direcionar melhor o tratamento do paciente com essa pré-disposição para que seja mais assertivo”, explica.

Apesar de a alopécia ser uma doença crônica, é possível estagnar o processo. “O teste não vai evitar que o paciente desenvolva a doença, mas ela não evolui tanto se ele fizer com que essa manifestação seja mais tardia”, diz.

Era comum homens com idades na faixa dos 60 apresentarem a queda capilar, de acordo com Rodrigues. Mas hoje a idade das pessoas que enfrentam o problema tem diminuído principalmente por conta de hábitos de vida. “Alimentação pobre em vitaminas e minerais, estresse, alto consumo de bebida alcoólica e de cigarros pode ter correlação com a aceleração do processo de queda”, explica a médica.

Um exemplo de como uma rotina envolvendo as características citadas pela especialista causou problemas com alopecia foi a pandemia de Covid, quando mais pessoas procuraram profissionais da tricologia com queixas relacionadas à queda de cabelo. Para Rodrigues, com os atuais casos de dengue há uma possibilidade que o cenário se repita. Isso porque o corpo passa por um processo inflamatório durante essas infecções.

O exame genético para saber se uma pessoa tem a possibilidade de desenvolver qualquer tipo de alopecia é feito com um swab (cotonete), que coleta uma amostra da mucosa bucal do paciente. Após essa etapa, a coleta é enviada a um laboratório e, depois de 15 a 20 dias, devolvida ao consultório médico.

Indicado para homens e mulheres, um dos primeiros testes do tipo utilizado no Brasil é importado de uma farmacêutica belga. Porém, no último ano, duas pesquisadoras brasileiras desenvolveram uma versão nacional. Ana Lúcia e Ana Carina Junqueira formularam um exame para diagnóstico da alopecia em parceria com geneticistas da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).

“O teste nos mostra a predisposição do paciente a uma chance maior ou não de desenvolver algum tipo de alopecia, ajudando ainda a direcionar melhor o tratamento, mostrando o que aquele organismo tende a responder melhor. Uma das maiores vantagens com esse diagnóstico é o direcionamento do tratamento”, explica a dermatologista e desenvolvedora do exame Ana Lúcia Junqueira.

Para criar o produto, foram estudados e codificados os genes relacionados a alopecia. Também foi testada a sensibilidade dos genes ao exame. Hoje o teste é produzido na cidade de São Carlos, a 230 quilômetros da capital paulista. “Nós fazemos a coleta na capital e encaminhamos para o laboratório particular, em São Carlos, para ser analisado”, comenta Junqueira.

De acordo com ela, cerca de 120 pessoas já realizaram o teste que só está disponível em sua clínica na cidade de São Paulo. Quem procura são filhos de pessoas que apresentam algum tipo de alopecia.

“O que acontece bastante é termos algum paciente já diagnosticado que quer saber se os filhos ou descendentes têm algum sinal ou uma chance aumentada de ter o mesmo problema”, afirma Junqueira.

O valor do exame desenvolvido pelas irmãs Junqueira varia entre R$ 2.500 e R$ 3.500.

Dermatologista e membro da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), Fabiane Brenner afirma que ainda não há evidências de que o teste genético seja certeiro. Para diagnosticar precisamente a alopecia em um paciente é feito um teste clínico com dermatoscopia, uma ferramenta que consiste em uma câmera que aumenta a raiz do couro cabeludo. Segundo ela, o padrão ouro para detectar a alopecia é esse tipo de exame ou a própria biópsia.

“O teste genético funciona melhor quando algum parente já apresenta o problema e o paciente quer saber se também pode desenvolver, então ele determina um risco, mas não um diagnóstico certeiro para a alopecia”, completa Brenner.

A médica diz, no entanto, que o diagnóstico precoce favorece uma melhora efetiva mais rápida do paciente. “Quanto mais cedo eu descobrir e tratar, terei uma resposta muito melhor”, finaliza.

Um dos principais e mais populares tratamentos utilizados para tratar a alopecia androgenética consiste no uso do medicamento minoxidil, que surgiu como um medicamento para hipertensão.

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