(FOLHAPRESS) – A greve desta terça-feira (3), de trabalhadores do metrô, da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e da Sabesp (Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo), é a segunda paralisação no transporte público enfrentada por Tarcísio de Freitas (Republicanos) em menos de dez meses à frente do governo de São Paulo.
A primeira delas, de 34 horas, ocorreu há seis meses, em março e parou as linhas do metrô sob gestão pública. A principal reivindicação era salarial.
A greve no início do governo foi marcada por brigas entre o sindicato da categoria e o Metrô.
Entre idas e vindas sobre a liberação das catracas, inclusive com manifestação judicial, na época, o vice-presidente do sindicato Narciso Fernandes Soares afirmou que Tarcísio mentiu durante a negociação.
Agora, os sindicatos pedem o cancelamento de todos os processos de concessão no Metrô, na CPTM, na Sabesp e na Estrada de Ferro de Campos do Jordão.
Eles também pedem a realização de um plebiscito oficial sobre a privatização dos serviços (as categorias já fazem uma consulta independente).
Praticamente ao mesmo tempo em que sindicalistas e representantes de movimentos sociais e partidos de esquerda discursavam na noite desta segunda-feira (2), em assembleia que ratificou a paralisação, Tarcísio emitia um comunicado dizendo que a greve era abusiva e ilegal.
Na semana passada, ele já havia chamado a paralisação de ataque político.
“A greve não foi convocada para reivindicar questões salariais ou trabalhistas, mas sim para que os sindicatos atuem, de forma totalmente irresponsável e antidemocrática, para se opor a uma pauta de governo que foi defendida e legitimamente respaldada nas urnas”, afirmou a nota.
“Assim, ao chantagear a população com greves ilegais, os sindicatos atentam não só contra a legislação vigente, mas também à ordem pública e ao aprimoramento das políticas públicas”, disse o governo. “A esfera de debate para privatização são as audiências públicas e não por meio da ameaça ao impedimento do direito de ir e vir do cidadão.”
Inúmeras vezes na noite desta segunda, a presidente Sindicato dos Metroviários, Camila Ribeiro Duarte Lisboa, repetiu que a greve era legítima e legal.
Ela chamou o movimento de histórico. “É um ato para a gente registrar na nossa memória, nas fotos, e sempre lembrar desse esforço necessário de unidade que a gente fez para chegar até aqui, sabendo que não é o final”, discursou a uma plateia com bandeiras de sindicatos e partidos opositores ao governo.
Em tom de alerta para outros movimentos contra as privatizações, Lisboa classificou a greve desta terça como “um dos começos, um dos primeiros passos de tantas outras mobilizações que a gente vai ter que fazer”.
Na troca de farpas, Tarcísio disse que o programa de parcerias, concessões e desestatizações visa a melhoria na prestação dos serviços públicos e está totalmente amparado pelas leis brasileiras.
Contra o modelo, Lisboa listou problemas enfrentados por serviços concedidos à iniciativa privada, em São Paulo e no Rio de Janeiro, e rebateu Tarcísio afirmando “que o governador mente ao dizer que a iniciativa privada é mais eficiente”.
Entre uma greve e outra desde a primeira, em março, houve dois recuos na véspera.
Na primeira delas, em junho, os metroviários pediam pagamento de cestas de Natal. Mas chegaram a um acordo com o Metrô, que reajustou o vale-alimentação em 38,9%, e recuaram.
Em agosto, os funcionários do metrô já sinalizavam parar contra o processo de concessão. A greve acabou suspensa sob a justificativa de se concentrar esforços para um ato em conjunto com trabalhadores da CPTM e da Sabesp, previsto inicialmente para setembro, mas acabou marcado para esta terça-feira.
A paralisação no transporte sobre trilhos e na empresa de saneamento se junta outra que o governo paulista enfrenta atualmente. Desde a semana passada, professores e alunos da USP (Universidade de São Paulo) cruzaram os braços. O motivo é a falta de docentes na instituição de ensino superior pública.
A greve atingiu todas as unidades da universidade na capital paulista.